Rosângela Lula da Silva, 57 anos, vem ganhando cada vez mais destaque no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Conhecida como Janja, a primeira-dama do Brasil — que também é socióloga — se tornou o termo mais citado por Lula nos 29 discursos oficiais que fez neste ano.
A contagem foi baseada em dados estudados no aplicativo Pinpoint — um serviço Google que auxilia na análise de documentos. Ao registrar 29 pronunciamentos oficiais do presidente da República em 2024 na plataforma, foi identificado que o nome “Janja” é citado 10 vezes. O segundo nome mais dito por Lula foi o da ex-presidente e atual gestora do Banco dos Brics, Dilma Rousseff. A petista foi citada por Lula sete vezes em discursos oficiais deste ano.
Relevância de Janja
Na Constituição Federal, o título de primeira-dama não possui representação legal. Mesmo assim, na política, a participação de Janja no governo Lula vai além da presença do seu nome nos discursos do presidente. Ela própria disse, em entrevista à BBC no domingo (14/4), assumir um papel de “articuladora” do governo e que seu marido — o presidente do Brasil — lhe dá “total autonomia” para exercer essa função.
“O meu (papel) é o papel de articulador, de quem fala sobre políticas públicas. Podemos estar em espaços diferentes e conversar com públicos diferentes quando necessário”, disse Janja.
No dia a dia da política, mesmo sem ter um cargo formal, Janja recebe movimentos políticos para discutir política. No final de março, ela se encontrou com deputadas e senadoras da Bancada Feminina no Congresso para discutir a participação das mulheres na vida pública.
Liderança política
O cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Mackenzie, interpretou que o fato de Janja ser o nome mais falado nos discursos oficiais do presidente Lula aponta para uma presença dela como cabo eleitoral do PT nas eleições municipais de outubro deste ano.
“Lula é quem manda no PT. Então, se o presidente cita o nome de Janja em seus discursos, pode ser um sinal de que ela pode atuar ao lado dele em campanhas do partido para as eleições municipais”, sugere o professor. Nos pleitos deste ano, paira sobre o PT o efeito da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (PL) e os movimentos políticos dela no grupo feminino do seu partido, o PL Mulher.
Nesse sentido, ainda de acordo com o cientista político, os movimentos de Rosângela Lula da Silva tanto em receber lideranças femininas e de se posicionar publicamente sobre temas considerados polêmicos têm um significado eleitoral.
Presença nas redes sociais
Disputas eleitorais também podem ser o viés de interpretação sobre o engajamento das duas nas redes sociais. De acordo com a empresa de marketing digital AtivaWeb, Janja e Michelle registraram crescimento no número de seguidores nas redes sociais entre maio de 2023 e abril deste ano. A AtivaWeb publicou nesta segunda-feira (15/4), um mapeamento da trajetória digital das duas personagens.
De acordo com a análise da empresa, Michelle teve crescimento mais significativo do que os perfis de Janja. Enquanto a primeira-dama viu um aumento de 26.186 seguidores (1.15%) no período analisado, a esposa de Bolsonaro ganhou 322.768 de seguidores (5,14%).
Esse aumento de seguidores, conclui a pesquisa, indica uma capacidade mais forte de atrair novos seguidores e manter o interesse da audiência existente, "possivelmente graças a estratégias de engajamento mais eficazes, conteúdo relevante ou uma combinação de eventos que capturaram a atenção do público".
O CEO da empresa, Alek Maracajá, afirmou que os estudos sobre os desempenhos da atual e da ex-primeira-dama nas redes sociais teve o objetivo de "entender as tendências, o alcance e o impactos de suas atividades on-line (de Janja e de Michelle)".
Substituta de Lula?
Com 78 anos, cogita-se a ideia de que Lula não deve concorrer a uma reeleição em 2026. Uma opção para representar o PT nas urnas, de acordo com o professor Rodrigo Prando, seria Janja. Além das 10 alusões à primeira-dama nos discursos presidenciais em 2024, o cientista político falou que um possível papel de cabo eleitoral do PT nas eleições municipais deste ano pode “qualificar” Janja para ser a representante da agremiação no pleito a presidente.
“Pode ser uma alternativa para o PT concorrer com Michelle Bolsonaro, que representaria o bolsonarismo, já que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) está inelegível. Para o PT, seria interessante colocar uma mulher contra Michelle porque, dessa forma, o debate ficaria entre figuras políticas do mesmo gênero”, refletiu.
O Correio tentou contato com a assessoria de comunicação de Rosângela Lula da Silva para comentar o fato dela ser o nome mais citado por Lula em discursos oficiais em 2024, mas até o fechamento desta reportagem, não houve respostas. Em caso de manifestação, o texto será atualizado.
*Estagiária sob supervisão de Ronayre Nunes