A proposta do presidente Javier Milei a Elon Musk, de oferecer ajuda na campanha que o empresário vem mantendo contra o Supremo Tribunal Federal (STF), gerou novo mal-estar entre Brasil e Argentina, a poucas horas da chegada a Brasília da chanceler Diana Mondino — chefe da diplomacia do país vizinho. A afirmação é de fontes do Ministério das Relações Exteriores ouvidas pelo Correio. Trata-se da primeira viagem oficial de um membro do primeiro escalão do governo de Milei ao Brasil
O presidente argentino e o bilionário sul-africano encontraram-se, ontem, na fábrica da Tesla, em Austin, Texas, nos Estados Unidos. Na conversa, além de colaboração nos ataques ao STF, Milei sugeriu que as empresas de Musk seriam recebidas de braços abertos, caso o bilionário decida migrar para outro país as operações que existem no Brasil. "Se quererem vir para cá (Argentina), serão mais que bem-vindos", disse Milei.
O presidente argentino afirmou, ainda, que em solo argentino as empresas do sul-africano teriam muito mais liberdade de ação do que no Brasil. Por meio de nota, a Casa Rosada — sede do governo argentino — tentou amenizar o impacto dos argumentos do presidente junto à diplomacia brasileira, ao destacar que "Javier Milei e Elon Musk coincidiram na necessidade de liberar mercados e defender as ideias da liberdade".
O estrago, porém, está feito. "Não vejo, independentemente de qualquer questão positiva da relação entre o Brasil e a Argentina, como a situação não ficará insuportável de explicar", avalia um diplomata brasileiro.
Apesar do mal-estar, o Itamaraty assegura que a agenda da chanceler está mantida. As equipes estão trabalhando nas declarações conjuntas de Diana Mondino e do ministro das Relações Exteriores brasileiro, Mauro Vieira.
"As declarações de Milei não têm nenhuma importância. A relação Brasil-Argentina é antiga e sólida. Eles nos aguentaram por quatro anos, quando nosso chefe de Estado fez declarações polêmicas. Agora é a nossa vez. Isso não altera em nada", disse um diplomata envolvido com o encontro, referindo-se ao período em que Jair Bolsonaro foi presidente do Brasil.
Diplomatas argentinos reforçaram o entendimento. Apontam que os dois países têm laços econômicos muito fortes, tanto que na visita de quatro dias da chanceler argentina, apenas o primeiro dia será em Brasília — quando haverá uma agenda bilateral entre os governos. No restante do tempo, ela estará envolvida com reuniões em São Paulo nas quais participarão representantes de vários setores privados brasileiros.
A imprensa argentina noticiou que Musk teria pedido a Milei que ele intercedesse na disputa com o ministro do Supremo Tribunal Brasileiro (STF), Alexandre de Moraes, que o investiga por obstrução da Justiça — no domingo, o magistrado o incluiu no inquérito das fake news e determinou que a Polícia Federal (PF) investigue as atividades do empresário e a atuação do X.
Desde que Musk passou a atacar Moraes e o STF, os bolsonaristas intensificaram as agressões ao ministro e à Corte e disseminam aos seus apoiadores a narrativa de que existe uma "ditadura" no Brasil.
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