A indisposição do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com o ministro do governo responsável pela articulação no Congresso Nacional, Alexandre Padilha, das Relações Institucionais, deixou de ser conversa de bastidores e de ataques do parlamentar feitos em rodas com colegas e jornalistas, e, agora, se tornou pública.
Um dia depois de o plenário da Câmara aprovar, por 277 a 129 votos, a manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), muito comemorada publicamente por Padilha e apontada como uma derrota de Lira, o presidente da Casa não poupou adjetivos negativos ao governo e ao auxiliar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Essa votação foi o estopim dos ataques.
Em Londrina (PR), nesta quinta-feira, o deputado alagoano chamou Padilha de "incompetente" e disse que o ministro é um "desafeto pessoal" dele.
Os ataques de Lira ocorreram após ele ser questionado por jornalistas sobre o resultado da votação relativa a Chiquinho Brazão. Segundo o presidente da Câmara, as informações que circularam de que ele vinha trabalhando pela soltura do deputado fluminense foram fomentadas por Padilha.
Depois do resultado da sessão no plenário, o ministro apareceu nas redes sociais abraçado com a ministra Anielle Franco, da Igualdade Racial, irmã da vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018. Brazão é acusado de ser um dos mandantes do crime, que vitimou, ainda, o motorista Anderson Gomes.
Lira reagiu: "Essa notícia foi vazada do governo e, basicamente, do ministro Padilha, que é um desafeto, além de pessoal, um incompetente", disparou. "Não existe partidarização. Eu deixei bem claro que ontem (quarta-feira) a votação foi de cunho individual, cada deputado responsável pelo voto que deu. Não tem nada a ver", acrescentou, ao se referir a uma resposta que deu, no dia da votação, a um questionamento de Chico Alencar (PSol-RJ). Na ocasião, ele disse ao colega: "Quem votar pela abstenção ou não votar sabe o que está fazendo. E sabe o efeito do voto que está dando. Nós não temos aqui criança. O assunto é sério, e nós não vamos dissimular sobre isso".
Com o resultado, Lira afirmou que virou alvo de "notícias plantadas" por integrantes do Executivo. "É lamentável que integrantes do governo, interessados na instabilidade da relação harmônica entre os Poderes, fiquem plantando essas mentiras, notícias falsas, que incomodam o parlamento. E, depois, quando o parlamento reage, acham ruim", ameaçou.
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Confiança
Essa não foi a primeira vez que Lira investiu contra Padilha, mas a pressão que ele faz não impulsiona Lula a exonerar o ministro. Sempre que pode, o presidente dá demonstração de confiança no seu auxiliar, como ocorreu na quarta-feira.
Em cerimônia no Planalto, Lula frisou que Padilha tem o cargo mais espinhoso do governo e que a demanda de deputados e senadores é muito grande. Afirmou, ainda, que o trabalho do ministro é competente.
"Digo que o Padilha vai bater recorde porque é ministro que está durando muito tempo no seu cargo. E vai continuar pela competência dele", destacou o chefe do Executivo.
Horas depois dos ataques de Lira, Padilha postou, em uma rede social, o vídeo com os elogios de Lula, e escreveu: "Ter ouvido isso ontem (quarta), publicamente, do maior líder político da história do Brasil é sempre uma honra para toda a equipe do Ministério das Relações Institucionais. Agradecemos e estendemos esse reconhecimento de competência ao conjunto dos ministros e aos líderes, vice-líderes e ao conjunto do Congresso, sem os quais não teríamos alcançado os resultados elogiados pelo presidente Lula, com a aprovação da agenda legislativa prioritária para o governo e para o Brasil".
Um dos vice-líderes da maioria na Câmara, o deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) saiu em defesa de Padilha e disparou contra o presidente da Câmara.
"Quem Lira pensa que é? O presidente da República é Luiz Inácio Lula da Silva, eleito com 60,3 milhões de votos! Ministro Padilha tem minha total e irrestrita solidariedade", ressaltou. "Chega de política de faca no pescoço. Tenha mais respeito antes de atacar um dos principais quadros do nosso governo e do nosso partido. A competência do Padilha é porque não deixa Lira prender o orçamento da Saúde nem soltar o acusado de assassinar Marielle Franco."
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