O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná retoma, hoje, o julgamento da ação que pode cassar o mandato do senador Sergio Moro (União Brasil-PR). O placar está em 1 x 1 e restam os votos de cinco desembargadores. Na sessão de 3 de abril, o presidente do TRE-PR, Sigurd Roberto Bengtsson, afirmou que gostaria de ver o julgamento terminado nesta que pode ser a última sessão.
Mas, independentemente do resultado — a expectativa é de que, com vitória ou derrota de Moro na Corte regional, o caso chegará ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) —, isso não será capaz de arrefecer a disputa pela cadeira no Senado que, eventualmente, pode vagar. Pelo menos sete candidatos demonstraram interesse em concorrer a uma possível eleição suplementar no Paraná.
Os partidos manejam suas peças. PL e PT são os mais interessados na vaga, mas políticos de outras legendas demonstraram interesse.
No PT, a disputa pela vaga está em curso. Os deputados federais Gleisi Hoffmann (PR), também presidente da legenda, e Zeca Dirceu (PR), líder da sigla na Câmara, cobiçam a cadeira ora ocupada por Moro. Se colocaram como pré-candidatos e lideram as críticas ao ex-juiz da Operação Lava-Jato. Dirceu, porém, considera disputar a prefeitura de Curitiba, em outubro — Gleisi a princípio apoia Luciano Ducci (PSB), algo que fez com que os dois parlamentares sejam antagonistas atualmente.
Outro partido diretamente interessado na derrota de Moro, o PL caminha para apoiar o ex-deputado Paulo Martins, que disputou o Senado, em 2022, e perdeu para o ex-juiz. A possibilidade de a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro concorrer chegou a ser ventilada — ela vem percorrendo o país e é considerada um dos cabos eleitorais mais fortes do partido atualmente. Seu foco, porém, é a disputa de 2026, quando pode concorrer ao Senado pelo Distrito Federal, onde nasceu. Afinal, duas vagas por unidade da Federação estarão em disputa, o que aumenta as chances da candidatura.
Além disso, Michelle pode se tornar uma alternativa do bolsonarismo à corrida presidencial ante a hipótese de nenhum candidato da extrema direita ganhar musculatura para a disputa — os nomes mais citados, o dos governadores Tarcísio de Freitas (SP) e Ronaldo Caiado (GO), não chegam a empolgar os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Moro, porém, não pretende abrir mão da cadeira do Senado tão facilmente, mesmo que a situação para ele se agrave. Por conta disso é que articula para que sua mulher, a deputada Rosângela Moro (União Brasil-SP), tenha condições de sucedê-lo. Isso, aliás, a levou a mudar o domicílio eleitoral para o Paraná no início de março.
Novo domicílio
Embora não haja empecilhos na legislação, a mudança, porém, é contestada judicialmente pelo PT. Em reação, Zeca Dirceu apresentou um projeto de lei para impedir que parlamentares mudem de estado no decorrer do mandato. Para ele, a troca de domicílio é uma "fraude eleitoral".
O PP do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), também não deve ficar de fora de uma eventual eleição suplementar. O ex-líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros (PP), já se colocou como candidato à vaga. Ele disse esperar ter o apoio do ex-presidente, que está mais inclinado a defender o postulante de sua própria legenda.
O ex-governador e ex-senador pelo Paraná Álvaro Dias (Podemos-PR) é mais um que sonha com a possibilidade de disputar a eleição suplementar. A ironia dessa postulação é que o ex-parlamentar foi um ferrenho defensor da Lava-Jato e um empolgado cabo eleitoral de Moro, quando o ex-correligionário apresentou a pré-candidatura à Presidência. Com a migração, ainda em 2022, para a disputa à única vaga da bancada paranaense no Senado, e pelo União Brasil, o ex-juiz derrotou exatamente Dias, que buscava mais um mandato na Casa.
O MDB também pretende participar da corrida à eventual sucessão de Moro. Para a tarefa, o escalado é o deputado federal Sergio Souza (MDB-PR).
Uma vez percorrida a etapa do TRE-PR, caso o TSE decida pela cassação, a Corte vai definir um calendário para definição dos candidatos e realização das campanhas. Há a possibilidade de que o pleito suplementar ocorra junto com as eleições municipais de outubro, mas pode ficar somente para o ano que vem se a decisão demorar.
A possibilidade de Moro ser cassado não é bem vista no Palácio do Planalto. Interlocutores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmam que ele não é favorável a que o ex-juiz perca o mandato, uma vez que é considerado dentro do Senado uma figura isolada — que nem mesmo a oposição cultiva, apesar de ele votar contra o governo na maioria das vezes.
O temor de Lula é que, com a eventual cassação do mandato de Moro, o Paraná eleja alguém que reforce o grupo dos bolsonaristas. Além disso, o presidente tem demonstrado incômodo com a disputa entre Gleisi e Zeca Dirceu no PT paranaense — o que pode enfraquecer a legenda na disputa pela prefeitura de Curitiba.
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