Alvo de um forte ataque especulativo nos últimos dias, a Petrobras se prepara para enfrentar os adversários. Em resposta às críticas declaradas e ao clima de fritura do presidente da companhia, Jean Paul Prates, a estatal pretende apresentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma lista de resultados positivos acumulados nos 15 meses. Após um mal-estar provocado pelo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, Prates tentou agendar uma reunião com o chefe do Planalto, sem sucesso. Lula deve se encontrar com ministros em Brasília, neste fim de semana, para tratar do assunto.
Entre os números levantados pela equipe de Prates, estão o segundo melhor lucro líquido da história da empresa em 2023, de R$ 43,9 bilhões. Na gestão do ex-senador petista, a companhia conseguiu recuperar R$ 150 bilhões em valor de mercado, no ano passado, e anunciou um plano de investimentos robusto, de US$ 120 bilhões para o novo quinquênio, devendo gerar 280 mil empregos diretos e indiretos por ano.
Em 1º de fevereiro, a Petrobras bateu recorde de valor de mercado, atingindo R$ 552,6 bilhões na Bolsa de Valores de São Paulo (B3), superando as marcas alcançadas no segundo semestre de 2023 e em janeiro de 2024.
De acordo com fontes da Petrobras, a empresa ainda foi responsável pela arrecadação de R$ 230 bilhões em tributos no ano passado e contratou 3 mil novos trabalhadores. Funcionários da estatal destacaram que Prates é bem-visto entre os empregados e membros do conselho, principalmente por ser da área.
Em entrevista à GloboNews, nesta sexta-feira, o ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Paulo Pimenta, minimizou a crise na estatal. Garantiu que a Petrobras contará com um ambiente de "estabilidade nos próximos dias". Segundo ele, os nomes aventados para substituir Prates estariam no campo da "especulação" e do "chute".
"Cautela"
No processo de fritura de Prates, o nome do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, é um dos mais citados. Pimenta assegurou que Lula vai se envolver diretamente na busca de uma solução para a crise e recomendou "cautela e tranquilidade" em torno do assunto.
Analistas, contudo, veem com preocupação essa nova interferência política na Petrobras, sem os tradicionais comunicados ao mercado, já que a empresa tem ações negociadas na Bolsa, e qualquer oscilação influencia o Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3.
O nome de Mercadante no comando da estatal não foi bem recebido pelo mercado financeiro, porque haveria uma perspectiva de intervenção política maior na empresa. "Vai ser um horror Mercadante na Petrobras. Ele vai fazer tudo o que Lula quer, como segurar o preço dos combustíveis e expandir o mercado de gás e as refinarias", afirmou uma economista que pediu anonimato.
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Eduardo Velho, economista-chefe da JF Trust Gestora de Recursos, reconheceu que esse troca-troca de comando na Petrobras, como ocorreu no governo Jair Bolsonaro, quando o executivo não agradava mais, é ruim para a empresa e para o mercado financeiro.
"É muito complicada a situação. Por um lado, há uma forte pressão de Lula, que quer aumentar os gastos para recuperar a popularidade. E, nesse contexto, como a Petrobras não é uma empresa privada, mas de capital misto, o aumento da intervenção política é ruim e remete às lembranças do passado", alertou.
Após estar no meio do escândalo de corrupção da Lava-Jato, a Petrobras demorou para recuperar o valor de mercado, e grande parte desse mérito está relacionada com a política de paridade de preços internacionais (PPI), instaurada na gestão de Pedro Parente, no governo Michel Temer.
O troca-troca no comando da Petrobras foi agitado no governo Bolsonaro, pois ele escolheu quatro presidentes durante o mandato, perdendo apenas para o ex-presidente Fernando Collor, que fez cinco trocas em um prazo menor, entre 1990 e 1992.
Petroleiros
Integrantes do governo admitem que é possível uma reunião ministerial de Lula sobre Petrobras, neste fim de semana, mas assessores do Planalto não confirmaram oficialmente o agendamento do encontro. Contudo, os ministros podem cancelar os compromissos fora de Brasília, caso o chefe do Executivo faça uma convocação. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, por exemplo, está em São Paulo, porém fica de sobreaviso e poderá mudar a agenda a qualquer momento e retornar à capital federal.
Por enquanto, está confirmado que Lula se encontrará, neste sábado, com o coordenador-geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Deyvid Bacelar, na Granja do Torto. A entidade, por meio de uma nota oficial, manifestou apoio a Prates e criticou o "espancamento público" sofrido pelo ex-senador.
"A FUP reconhece a atuação da gestão Prates em busca do fortalecimento da Petrobras como promotora de investimentos capazes de contribuir para a geração de emprego e renda dos brasileiros", destacou o comunicado.
Entre os principais elogios a Prates, estão a retomada do diálogo da diretoria da empresa com o sindicato e o fim do PPI.
Em meio a essa perspectiva de troca no comando da Petrobras, as ações da companhia sofreram fortes oscilações na B3 nos últimos dias e encerraram o pregão desta sexta-feira meio sem rumo definido, a exemplo de Prates.
As ações preferenciais (sem direito a voto, mas com prioridade no recebimento de dividendos) da Petrobras fecharam com alta de 0,58%, a R$ 38,10; as ordinárias (com direito a voto) recuaram 0,20%, para R$ 39,04, em meio aos rumores da troca de comando da companhia.
A nova crise na Petrobras ganhou corpo após o Conselho de Administração reduzir o pagamento de dividendos, guardando o lucro de R$ 43,9 bilhões para reserva de remuneração de capital. Com isso, a União, principal acionista da estatal, deixaria de receber R$ 12 bilhões, o que desagradou o governo de forma geral e colocou o nome de Prates na mira de Alexandre Silveira e de outros ministros palacianos.
A expectativa é de que, na próxima Assembleia Geral Ordinária (AGO) dos acionistas, marcada para o dia 25 deste mês, em vez do mínimo, seja aprovado ao menos 50% dos dividendos extraordinários, o que poderia ajudar a melhorar os cofres da União. O erário vem sofrendo dilapidação por medidas de gastos aprovadas pelo Legislativo sem indicativo de fonte de receita recorrente, como o fim da reoneração da folha de municípios com até 140 mil habitantes, promovido pelo presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), nesta semana, e que, segundo Haddad, deve custar mais R$ 10 bilhões por ano.
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