Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, ontem, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, e os três comandantes das forças — Exército, Marinha e Aeronáutica — se queixaram do orçamento, insuficiente para suas áreas, e pediram apoio dos parlamentares, que podem destinar recursos por meio de emendas. Múcio solicitou auxílio financeiro para que os projetos estratégicos não sejam paralisados, e cobrou previsibilidade orçamentária.
O ministro afirmou que o governo investe o equivalente a apenas 1,1% de seu Produto Interno Bruto (PIB) na defesa, diferentemente de outros países — que chegam a 2,5%, disse. "Não precisamos de 2%, como os países da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). A Colômbia, um país pequeno, tem 3,6% do PIB. Nossos vizinhos estão com um orçamento maior do que o Brasil. Mas, diante das nossas prioridades, não estamos investindo em uma defesa, que é a guardiã do nosso território, da nossa soberania", exortou o ministro.
Segundo Múcio, investimento em defesa não tem apelo eleitoral e, por isso, é quase ignorado pelos parlamentares. "Não temos bancadas de deputados ou senadores. Somente os senhores poderão ajudar, criticar e contribuir com o que estamos precisando. E o que estamos precisando? Não só honrar nossos compromissos, como dotar nossas Forças Armadas de equipamentos conforme as nossas potencialidades e riquezas. É muito difícil, num país como o Brasil, com tantos problemas, pedir dinheiro para a Defesa. Mas, hoje, compramos sem a certeza de podermos pagar", insistiu Múcio.
O comandante da Marinha, almirante Marcos Sampaio Olsen, falou do desmonte da força que comanda. "Nos últimos 20 anos, a esquadra desmobilizou 50% dos seus meios (navios). E, até 2028, mais 40% serão desmobilizados, dos 50% que sobraram", advertiu.
As queixas também partiram do comandante da Aeronáutica, brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno. "Não estamos voando a quantidade de horas necessárias para mantermos os pilotos adestrados", frisou. A Força Aérea Brasileira (FAB) conta, atualmente, com 458 aeronaves ativas — em 2014, eram 576. Segundo o brigadeiro, o deficit anual para a manutenção das aeronaves é de R$ 1,3 bilhão.
Vida pública
Múcio também defendeu os projetos, que tramitam no Congresso, que impedem que o militar da ativa dispute um cargo eletivo — e, em caso de não conseguir a reeleição, retorne à caserna. Para o ministro, aquele que entra na política, e depois volta ao quartel, retorna para as fileiras militares inflado pelo "proselitismo do político" — algo que desafia a hierarquia das forças e contamina um ambiente que deveria estar apartado de questões parlamentares.
Essa restrição, segundo Múcio, deveria ser imposta não apenas às três forças, mas, também, às polícia militares e corpos de bombeiros militares. "Quando mandamos para cá um projeto dizendo que incentivamos militares a ir para política, mas não voltar aos quartéis, é porque retorna com proselitismo do político. E começa a competir com o comandante dele", alertou.
Militares impediram golpe
Múcio foi provocado a se manifestar a respeito do que foi feito pelo governo em relação aos militares envolvidos no 8 de janeiro de 2023 — quando vândalos bolsonaristas atacaram os prédios dos Três Poderes — e a tentativa de golpe de Estado que manteria o ex-presidente Jair Bolsonaro à frente do governo, por meio do não reconhecimento de que fora derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva, no segundo turno das eleições de 2022. Segundo Múcio, se a quartelada de 1964 é atribuída aos militares, o fracasso das recentes incursões antidemocráticas também deve ser creditado aos integrantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
"Se debitamos o golpe de 1964 às Forças Armadas, creditamos não ter tido golpe, em 2022, às Forças Armadas. Podemos ter tido jogadores indisciplinados num time disciplinado. E os jogadores indisciplinados foram detectados agora. E queremos que eles sejam punidos porque não queremos ficar com a pecha da suspeição. As Forças Armadas passaram incólumes", frisou Múcio, sem citar nomes, mas referindo-se aos militares que abraçaram o bolsonarismo e estavam dispostos a atuar contrariamente à ordem institucional.
Múcio lembrou os depoimentos dos dois ex-comandantes do Exército (Freire Gomes) e da Aeronáutica (brigadeiro Baptista Júnior), que confirmaram à Polícia Federal (PF) que esteve em curso, sim, uma tentativa de golpe ordenada por Bolsonaro. E agradeceu aos dois oficiais.
"Passei o ano inteiro respondendo críticas da imprensa, de políticos. E, graças a Deus, depois dessas últimas delações que surgiram em janeiro, que deu CPF aos suspeitos, e tirou o CNPJ das forças, nós podemos estar olhando para os senhores, com altivez, e dizendo que precisamos nos juntar. O que estou pedindo não é só para esse governo, é para os próximos governos", exortou.
Saiba Mais
Gostou da matéria? Escolha como acompanhar as principais notícias do Correio:
Dê a sua opinião! O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores pelo e-mail sredat.df@dabr.com.br