A decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de vetar atos e manifestações oficiais do governo para lembrar os 60 anos do golpe militar tem apoio dentro de casa, na família dele. O seu irmão José Ferreira da Silva, que foi preso e torturado na ditadura, endossa a postura do chefe do Executivo e, mesmo tendo sido alvo das violações do regime, compreende a postura do petista.
Para Frei Chico, como é conhecido — ainda que não seja um religioso —, a medida adotada por Lula visa "preservar o governo" e não significa que o presidente esteja "radicalizando". Ele garantiu que não tratou do assunto com o irmão.
"Acho que Lula está certo em proibir esses atos, para que não aconteçam a partir e por iniciativa de sua equipe. Não entendo qual foi o motivo, mas acho que agiu correto, dentro da possibilidade de preservar o governo. Foi pensando nisso", argumentou Frei Chico, ao Correio.
Ele entende que Lula, mesmo sem se manifestar, apoia os eventos que estão programados por entidades. "A mensagem do Lula é que ele não vai liderar essa agenda, mas que está liberado que façam. Deixa os outros mexerem com isso, como estamos vendo a sociedade civil e outros atores. Ele está dando essa força para as entidades, assim vejo. Claro que ele não pode falar isso abertamente", afirmou.
O irmão de Lula foi preso em meados dos anos 1970 pelos agentes da repressão. Ele conta que ficou detido de dois a três meses, e trata sua prisão como um "sequestro".
Na oposição ao regime, ele atuou no clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB), o "Partidão". Era, até então, o mais politizado dos irmãos. Foi Frei Chico quem levou Lula, em 1969, para a direção do sindicato dos metalúrgicos. "Foi uma luta. Ele não queria", relatou.
Frei Chico é anistiado político e recebe uma prestação mensal por ter sido perseguido naquela época. A prisão o afastou da vice-presidência do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul (SP).
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Lula também foi preso na ditadura, poucos dias, e também é anistiado. Ele recebe uma aposentadoria de cerca de R$ 10 mil por essa perseguição.
Mas o presidente não é afeito ao tema ditadura. Nunca foi. A declaração de que 1964 deve ser esquecido e que não pretende "remoer" o que ocorreu nos anos de chumbo não surpreende. Em 2010, por exemplo, ficou do lado de seu então ministro da Defesa, Nelson Jobim, que, em nome dos militares, não gostou de ver o secretário de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, incluir no seu plano o entendimento de que a Lei de Anistia não veda punição de torturadores. Lula argumentou que esse assunto é da Justiça, não do governo.
Conforme lembrou Frei Chico, o regime militar atuou fortemente na perseguição aos opositores e impôs na violência a sua presença no poder. Ele disse que Lula é, sim, a favor da punição dos que cometeram esses crimes.
"A questão é que muito tempo se passou e muita gente já morreu, diferentemente do que ocorreu nesse 8 de janeiro de 2023. Estão todos aí e sendo punidos. E o Lula quer a punição a todos", ressaltou.
Ele tem suas opiniões sobre o governo. Acha um erro, por exemplo, o presidente ter optado por levar Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF), removendo-o do Ministério da Justiça. Entende que Dino é um nome forte no enfrentamento político com os bolsonaristas.
"O Dino tinha que continuar no governo, no ministério. É um grande quadro para enfrentar e derrubar esses adversários, como esse pessoal do Bolsonaro. Foi um erro", sustentou.
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