As solenidades oficiais do governo para lembrar os 60 anos do golpe militar teriam muita importância, teriam um peso diferente do ponto de vista da reparação do Estado que violou esses direitos e, logo, tem a obrigação de reconhecer os fatos pelos quais foi o responsável. Esse entendimento e raciocínio é do historiador e sociólogo Lucas Pedretti, professor de História na rede pública do Rio de Janeiro.
"Existe uma importância muito grande na realização de atos oficiais. A gente tinha muita expectativa em torno disso, por se tratar de um governo progressista e eleito com a defesa da democracia, e ainda diante do cenário do 8 de janeiro de 2023", afirmou Pedretti, em entrevista ao Correio. "Isso tudo nos levou a ter muita expectativa em torno dessa data e da realização de atos oficiais. Isso tudo para dizer que a decisão do governo é frustrante e decepcionante, para ficar num eufemismo", acrescentou.
O historiador integra a Coalizão Memória e acaba de lançar o livro A transição inacabada: violência de Estado e direitos humanos na redemocratização, pela Companhia das Letras e que está em pré-venda.
Lucas Pedretti entende que a postura do governo, em vez de desanimar, estimulou as entidades a se mobilizar e se organizar em torno da data.
"A decisão de não realizar atos oficiais ampliou entre nós, da sociedade civil, a necessidade de assumirmos o protagonismo da realização desse processo", frisou. "A não realização pelo governo, em vez de nos desmobilizar, nos estimulou ainda mais para que esses atos e debates aconteçam e que vão ocorrer com maior mobilização e mais cheios ainda, para tentar cobrir esse papel de disputa da memória", ressaltou.
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Significado
O autor acredita que a agenda dos eventos passou a ter maior significado com a ausência do Executivo e os atos da sociedade civil foram para o centro das atividades de recordação do golpe.
"Não podemos permitir que o esquecimento seja vitorioso e a política de silenciamento saia exitosa. O resultado dessa agenda envolve atos de rua até debates, exposições e seminários acadêmicos", enfatizou. "Uma amplitude que dá o tom dessa expectativa e demonstra nossa convicção de que falar sobre a ditadura não é remover o passado, mas, sim, construir um caminho de consolidação de um futuro no qual finalmente podemos nos ver livres da ameaça do autoritarismo e do risco de um novo golpe."
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