Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da França, Emmanuel Macron, demonstraram sintonia durante os três dias da visita do líder estrangeiro ao país e tentaram minimizar as divergências dos dois países sobre o acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul.
Após a passagem pelas capitais do Pará, do Rio de Janeiro e de São Paulo, Macron encerrou o périplo em Brasília com toda a pompa de visita de Estado ao Distrito Federal. Deu vários recados e criticou, mais uma vez, o acordo, como fez em São Paulo, e defendeu uma atualização do tratado em relação às diretrizes de sustentabilidade e da transição energética, valorizando a economia de baixo carbono.
"Esses acordos são um freio em relação ao que estamos fazendo para retirar o carbono das economias e para lutar em prol da biodiversidade. Nós, europeus, temos o texto mais exigente do mundo em relação a desmatamento e descarbonização", sustentou Macron, em declaração à imprensa após reunião bilateral com Lula, no Palácio do Planalto, nesta quinta-feira.
Ele ainda disse que todos são "loucos" pelo fato de ambos os blocos insistirem em acordos como eram feitos há duas décadas. "Quero recordar aqui que esse texto entre União Europeia e Mercosul é de um acordo negociado e preparado há 20 anos. Estamos só fazendo pequenas alterações. Estamos loucos continuando nessa lógica e, paralelamente, dizendo no G20 e na Conferência de Mudanças Climáticas das Nações Unidas (COP), 'vamos fazer isso', 'fazer aquilo'", frisou, ao ser questionado sobre o acordo.
Pouco antes, no discurso de abertura, Macron rasgou elogios a Lula, mencionou a destruição da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023 (leia reportagem na página ao lado) e assegurou que tem interesse em inaugurar um novo capítulo da parceria estratégica entre os dois países.
Lula, por sua vez, destacou que Macron demonstrou apoio aos pleitos do Brasil para a reforma da governança internacional, que inclui a mudança no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
Durante a sua fala, ainda criticou a paralisia do Conselho em relação às guerras na Ucrânia e na Faixa de Gaza, classificando-a como "alarmante e inexplicável".
"As teses que questionam a obrigatoriedade do cumprimento da recente determinação de cessar-fogo em Gaza, durante o Ramadã, corroem mais uma vez a autoridade do Conselho", frisou. Ele acrescentou que falar em um mundo baseado em regras que não são multilateralmente acordadas "significa retroceder séculos".
Já Lula reiterou a crença inabalável do Brasil no diálogo e na defesa da paz. "Meu governo seguirá trabalhando com afinco para que a América Latina e o Caribe continuem sendo uma zona sem conflitos, onde prevaleçam o diálogo e o direito internacional", garantiu.
Em relação ao acordo entre Mercosul e União Europeia, o líder brasileiro enfatizou o discurso de que esse tratado não está sendo negociado bilateralmente e, sim, pelos dois blocos, portanto, cada país tem que reclamar com os negociadores de cada lado.
O encontro antecede várias visitas que Macron prometeu fazer ao Brasil, além da agendada para novembro, à cúpula do G20 — grupo das 19 principais economias desenvolvidas e emergentes do planeta, mais a União Europeia —, a ser realizada no Rio de Janeiro. Em 2025, ele pretende retornar para participar da 30ª Conferência sobre Mudanças Climáticas da ONU, a COP30, em Belém, e também para festejar os 200 anos das relações bilaterais entre Brasil e França.
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Atos formais
Os chefes de Estado assinaram mais de 20 atos formais em várias áreas, como bioeconomia, defesa, agricultura, cultura, combate ao garimpo ilegal e transição energética. Entre os acordos, destaca-se o da renovação do plano de ação de parceria estratégica entre os dois países, chamado de Mapa do Caminho, que orienta as principais medidas bilaterais e como implementá-las.
Após a assinatura de atos, contudo, tanto Lula quanto Macron ficaram perdidos no protocolo, mas, no discurso, tentaram mostrar uma certa coerência na defesa da democracia e na defesa das pautas comuns no G20 e na agenda multilateral.
"Sempre estarei ao seu lado em todos os projetos que levar ao G20", garantiu o presidente francês em seu discurso.
Macron ainda anunciou que a França pretende investir 1 bilhão de euros (R$ 5,4 bilhões) na bioeconomia da Amazônia brasileira e da Guiana Francesa, território ultramarino da França na América do Sul. Segundo ele, os investimentos devem ser direcionados para ações de conservação e manejo sustentável das florestas e o planejamento e a valorização econômica dos ecossistemas.
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