Deputados fizeram, nesta sexta-feira, uma sessão solene na Câmara para homenagear a vereadora Marielle Franco (PSol) e o motorista Anderson Gomes, assassinados em 14 de março de 2018. O evento ocorreu dois dias após a Polícia Federal prender os suspeitos de terem mandado matar a parlamentar.
A sessão contou com a presença de deputados do PSol e de outros partidos; e do ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Quem também compareceu foi Fernanda Chaves, sobrevivente do atentado. Ela era assessora de Marielle na época. Além disso, integrantes do movimento negro ocuparam o plenário da Casa.
Nos discursos, deputados lembraram a atuação de Marielle e falaram sobre a milícia do Rio de Janeiro, reforçada por integrantes do Estado. Os presos no domingo foram o deputado federal Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), o conselheiro do Tribunal de Contas do estado Domingos Brazão, e o ex-chefe da Polícia Civil do Rio Rivaldo Barbosa.
"No domingo, a revolta nos tomou, porque, se já sabíamos do papel das milícias do Rio de Janeiro e dessa relação promíscua entre crime e política no nosso estado, ficou evidente a digital do estado em todos os momentos desses últimos seis anos", destacou a deputada Talíria Petrone (PSol-RJ). "Todas as esferas do Estado brasileiro estavam no planejamento intelectual do crime, talvez mais brutal desde a redemocratização. Foi o Estado brasileiro que executou esse crime, porque as balas que mataram Marielle e Anderson foram balas do Estado."
Silvio Almeida, por sua vez, enfatizou que o duplo homicídio foi um "prenúncio" para os anos que se seguiram no país. "O assassinato covarde de Marielle e Anderson demonstrou o início de um processo de degradação institucional e civilizatória da sociedade brasileira", frisou. "Foi o prenúncio do que nós veríamos no Brasil nos tempos que seguiram a esse crime bárbaro."
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"Estado apodrecido"
Para Silvio, o fato de o crime ter sido encomendado por três agentes públicos é um grave retrato do "adoecimento" do Estado. "Revelaram-se as entranhas de um Estado apodrecido, de uma sociedade conivente com as piores coisas e que precisa ser radicalmente reformulada", afirmou.
"Eles subestimaram a força do povo brasileiro. Eles achavam que estavam matando mais uma mulher negra, trabalhadora, vereadora, que ninguém ia dar conta, já que geralmente o Estado brasileiro não dá conta de pessoas que morrem e têm essas características", destacou. "Só que eles se enganaram. Eles nos deram a oportunidade de discutir um novo projeto para o Estado e a sociedade, um projeto de segurança pública, de cidadania, de direitos humanos."
Segundo o ministro, o desfecho do caso deixou "evidente" que "não existe segurança pública sem direitos humanos, e o contrário também é verdadeiro". "O Brasil precisa retomar o controle de seu território, e isso não é usar forças policiais para ficar entrando nas casas de pobre dando tiro, soco e agredindo negros. Precisamos enfrentar com firmeza milicianos, grileiros de terra, faccionados."
Ele reforçou a importância de uma reforma agrária e urbana, além da demarcação de terras indígenas e da titulação de terras quilombolas. "São nessas ausências do Estado que o crime organizado se infiltra", sustentou.
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