Justiça

Mauro Cid nega coação da PF e diz que áudios foram 'desabafo'

O ministro Alexandre de Moraes divulgou a ata da audiência de Mauro Cid, no STF. Após prestar os esclarecimentos, o tenente-coronel foi preso por descumprir medidas cautelares

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), tornou pública, na noite desta sexta-feira (22/3), a ata da audiência com o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). De acordo com o documento, o militar afirmou que não foi coagido a fechar delação premiada junto a Polícia Federal (PF) e confirmou integralmente o depoimento que prestou no dia 11 de março, quando falou à corporação sobre uma suposta tentativa de golpe de Estado. 

Sobre os áudios vazados, divulgados pela Revista Veja na noite de quinta-feira (21/3), o militar disse se tratar de um "desabafo" e que "acabou falando besteira". Logo após prestar depoimento, Mauro Cid foi preso preventivamente por ordem de Moraes. O ministro entendeu que o tenente-coronel descumpriu as medidas cautelares e tentou cometer o delito de obstrução da justiça.

De acordo com o documento divulgado pelo STF, Cid afirmou na audiência estar “ciente de que seria feita a colaboração” e que teria consultado previamente o advogado dele, Cezar Bitencourt. O militar ainda diz querer seguir com a delação premiada, "de forma espontânea e voluntária”.

Ao ser questionado sobre os áudios vazados, Mauro Cid disse que os ouviu e confirmou a veracidade deles. No entanto, afirmou se tratar de uma "conversa privada e informal", e que "não lembra para quem falou essas frases de desabafo, num momento ruim". 

“É um desabafo, quer chutar a porta e acaba falando besteiro. Genérico, todo mundo acaba dizendo coisas que não eram para serem ditas. Em razão da situação que está vivendo, foi um desabafo. É um desserviço que a Veja faz ao inquérito, à minha família, às minhas filhas”, reclamou ele, de acordo com a ata da audiência. 

Cid também garantiu que “ninguém o teria forçado” a manter o diálogo com os investigadores da PF. “Eles (PF) têm a tese investigativa e ele tem a versão dela, muitas vezes as versões eram contrárias, nunca houve induzimento às respostas, ninguém membro da PF o coagiu a falar algo que não teria acontecido”, pontuou ele, como indica um trecho do documento

“Eles tinham outra linha investigativa e a versão dos fatos eram outras, ele explicava como tinha ocorrido, as policiais traziam os fatos na forma que estavam investigando”, explicou o militar.

Moraes já tinha "narrativa pronta", segundo Mauro Cid em áudios

Nos áudios vazados, Mauro Cid também fez vários ataques ao ministro Alexandre de Moraes. Ao ser questionado sobre uma das afirmações, onde diz que Moraes já teria uma “narrativa pronta”, Mauro Cid reiterou que já existiria uma linha de investigação e que o delegado disse que o “ouviu por último para fechar o quebra-cabeça”, no dia 11 de março. “Ele foi fechar os buracos naquela linha de investigação.”

No áudio vazado, Cid diz ter sido o mais prejudicado pelas investigações da trama golpista, que perdeu a carreira e teve prejuízo financeiro. Em determinado momento, ele afirma que “todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, o presidente (Bolsonaro) teve Pix de milhões, ficou milionário”. “O único que teve pai, filha, esposa envolvido”, disse.

O militar repetiu a avaliação e revelou que, além da carreira estar “desabando”, “os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar” e disse estar “agoniado” e ter engordado mais de 10 quilos.

No despacho em que tornou pública a ata de audiência, o ministro Alexandre de Moraes argumentou que era necessário afastar qualquer dúvida da legalidade e voluntariedade da colaboração de Mauro Cid.

“Diante da necessidade de afastar qualquer dúvida sobre a legalidade, espontaneidade e voluntariedade da colaboração de Mauro César Barbosa Cid, que confirmou integralmente os termos anteriores de suas declarações, torno pública a ata de audiência realizada para a oitiva do colaborador, no dia 22/3/2024, às 13h, na sala de audiências do Supremo Tribunal Federal, com a presença da Procuradoria-Geral da República e dos defensores”, afirmou o ministro Alexandre de Moraes em decisão.

O tenente-coronel foi preso após a audiência. Ao ser informado sobre a prisão, Mauro Cid passou mal e desmaiou. A equipe médica do STF foi acionada, mas o militar se recuperou antes da chegada dos paramédicos.

Em áudios, Mauro Cid criticou PF e Alexandre de Moraes

Em áudios divulgados pela Revista Veja, na noite de quinta-feira (22/3), Mauro Cid ataca a investigação, diz que é embalada por uma "narrativa" dos polícias, que teve declarações distorcidas e tiradas de contexto, e é enfático sobre a conclusão para Bolsonaro e aliados: "O Alexandre de Moraes já tem a sentença pronta". Ouça a íntegra dos áudios: 

Nos áudios, Cid cita pressão por parte da PF para deletar algo que ele não presenciou. "Eles (os policiais) queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu", conta Cid. "Eles já estão com a narrativa pronta, eles não querem saber a verdade, eles só queriam que eu confirmasse a narrativa dele, e todas vezes eles falam 'a sua colaboração está muito boa'".

Mauro Cid aponta que existe uma "narrativa" na investigação, e que ele segue o que os agentes sugerem. "Eu vou dizer, o que eu senti, eles já tão com a narrativa pronta deles, é só fechar. E eles querem o máximo possível de gente para confirmar a narrativa deles, é isso que eles querem".

Um dos tópicos envolvidos nos áudios vazados é o ministro Alexandre de Moraes. O responsável pelos inquéritos que investigam Bolsonaro é apontado por Cid como "a lei". "Eles são a lei agora, a lei já acabou há muito tempo, a lei é eles, eles são a lei, o Alexandre de Moraes é a lei, ele prende, ele solta, quando ele quiser, com Ministério Público, sem Ministério Público, com acusação, sem acusação".

Cid ainda pontua que a investigação não tem sentido, já que "Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta'. "Eu acho que essa é a grande verdade, ele só tá esperando passar o tempo, o momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita, e ele prende todo mundo", diz o ex-ajudante de ordens da PF.

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