JUSTIÇA

Os 10 anos da Lava-Jato: saiba onde estão os principais personagens

Operação foi descrita como a maior do país no combate à corrupção. Contudo, acumula polêmicas e debates sobre insegurança jurídica. Uma década depois, no saldo final, nenhum político permanece preso

A Lava-Jato completou 10 anos, sendo a operação mais polêmica da história do país e que marcou um período político do Brasil. Com impacto nas ações do poder público, da população e do setor privado, acumulou, claro, uma série de controvérsias com reveses do Supremo Tribunal Federal (STF) e críticas em torno do Ministério Público Federal (MPF). Passada uma década, os principais nomes envolvidos na força-tarefa ainda ocupam o noticiário.

Anunciada como a maior operação de combate à corrupção do Brasil, a estrutura era enorme. A deflagração, em 17 de março de 2014, contou com 400 policiais federais em seis estados e no Distrito Federal. Antes disso, teve seu primeiro grande personagem: o doleiro Alberto Youssef — que já era investigado no Caso Banestado.

O pivô das investigações se tornou um dos principais delatores na frente da apuração que mirou desvios na Petrobras. Seu depoimento ao então juiz Sergio Moro, da 13ª Vara Federal em Curitiba, serviu como base para as ações seguintes da Lava-Jato, levando à abertura de investigações contra políticos e empresários.

O rosto de Moro, inclusive, era o símbolo da Lava-Jato. Famoso, ele, no entanto, também acumulou polêmicas. Primeiro, foi declarado suspeito pelo STF nas ações que condenaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o resultado, as acusações contra o petista foram anuladas.

Em 2018, foi alvo de críticas por deixar a carreira como juiz federal para comandar o Ministério da Justiça durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Deixou a pasta envolvido em uma série de polêmicas e anunciou a pré-candidatura à Presidência da República. Depois, desistiu, trocou de partido e afirmou que seria candidato ao Senado pelo Paraná.

Moro se elegeu com 1,9 milhão de votos. Atualmente, ele corre o risco de perder o cargo. Em menos de um mês, o Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) dará início ao julgamento que discute a cassação do mandato dele, acusado de abuso de poder econômico e caixa dois.

Outra peça-chave da Lava-Jato também deixou a carreira para se aventurar na política é o Deltan Dallagnol. Ex-coordenador e porta-voz da operação, ele se afastou após denúncias de excessos e da divulgação de mensagens suas com o ex-juiz Sergio Moro e outros procuradores.

Dallagnol renunciou definitivamente no Ministério Público para apostar em uma carreira política, mas acabou sendo cassado como deputado federal no ano passado, após ser barrado pela Lei da Ficha Limpa. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) entendeu que ele deixou o cargo de procurador tendo pendentes processos administrativos no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP).

Dez anos depois, no saldo da operação, nenhum político permanece preso. Na avaliação do professor de estudos brasileiros da Universidade de Oklahoma (EUA) Fabio de Sá e Silva, é preciso analisar os impactos negativos da Lava-Jato no país. "Ajudou a causar recessão econômica, foi pródiga na violação da lei e de direitos e garantias processuais e pavimentou o caminho para a ascensão da extrema-direita, inclusive antecipando algumas das táticas dos extremistas, como os ataques ao STF. Não por acaso, é nesse ponto do espectro político que estão seus principais protagonistas", disse.

Para Silva, os principais personagens da Lava-Jato trocaram de lugar na história. "Antes, eram combatentes da impunidade. Hoje, são símbolos dela. Degradaram as instituições da justiça, violaram a lei, e saíram pela porta da frente, sem terem respondido a contento por suas condutas. Vivem da mesma política que demonizaram e fizeram disso, inclusive, um empreendimento familiar, trazendo parentes para disputar eleições", ressaltou.

O cientista político e advogado constitucionalista Nauê Bernardo de Azevedo também destaca um saldo ruim da operação. "Várias empresas quebraram, tivemos problemas políticos gravíssimos. Serviu para alimentar o sentimento de antipolítica na população brasileira, agentes navegaram politicamente nessa operação e acabaram indo para o parlamento", ressaltou.

Onde estão os principais personagens da Lava-Jato

Sergio Moro
Deixou a carreira no serviço público para integrar o primeiro escalão de ministros do governo Bolsonaro. Após deixar a pasta, foi eleito senador, mas corre o risco de ser cassado pela Justiça Eleitoral.

Deltan Dallagnol
Abandonou o Ministério Público para tentar carreira política. Foi eleito deputado pelo Podemos do Paraná, mas teve cassação confirmada em 2023, pelo TSE, por conta da Lei da Ficha Limpa.

Marcelo Bretas
Conhecido como o "Moro carioca", teve diversas sentenças anuladas pela Justiça. Em 2023, foi afastado do cargo por ordem do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Tem feito vídeos sobre direito, religião e autoajuda.

Alberto Youssef
Migrou para a prisão domiciliar em 2016 e, em 2017, para o regime aberto. No ano passado, por ordem do juiz federal Eduardo Appio, foi preso novamente. Em menos de 24 horas, o TRF-4 determinou a soltura do doleiro.

Rodrigo Janot
Ex-procurador-geral da República, ficou no cargo mais alto do MPF de 2013 a 2017. Chegou a cogitar uma candidatura nas eleições de 2022, mas desistiu.

Marcelo Odebrecht
Presidente da construtora Odebrecht, foi delator do esquema de empreiteiras que teriam dado propinas a centenas de políticos em troca de contratos com a Petrobras. Em 2021, teve o acordo de colaboração revisto pelo ministro Edson Fachin, do STF, que reduziu a pena de 10 anos para sete anos e meio. Em 2023, terminou de cumprir a condenação.

Nestor Cerveró
Deixou a Petrobras em março de 2014 após a polêmica sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Foi preso preventivamente em janeiro de 2015 e assumiu, em delação premiada, a cobrança de propina. Após deixar a cadeia no fim de 2016, passou a cumprir prisão domiciliar em Itaipava (RJ).

Paulo Roberto Costa
Foi o primeiro delator da Lava-Jato. Condenado a 12 anos de prisão, cumpriu parte da pena em regime domiciliar e parte em regime semiaberto. Morreu em agosto de 2022, aos 68 anos.

Renato Duque
O ex-diretor da Petrobras foi um dos primeiros alvos do alto escalão estatal. Estava preso desde 2015, mas foi solto em março de 2020.

João Vaccari Neto
Ex-tesoureiro do PT, chegou a ser condenado e preso por suposta corrupção na arrecadação de campanhas petistas. Em janeiro, Fachin anulou a condenação de 24 anos de prisão, por reconhecer a incompetência da 13ª Vara de Curitiba para processar e julgar o caso.

Léo Pinheiro
O ex-presidente da OAS teve um papel importante na condenação de Lula pelo caso do tríplex do Guarujá, processo que o levou à prisão. Ele afirmou que o petista teria usado sua influência para fechar negócios em troca de propina. No entanto, em 2021, escreveu uma carta recuando sobre as acusações feitas. Está em prisão domiciliar desde setembro de 2019.

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