O comportamento de dois dos três comandantes militares do governo de Jair Bolsonaro está sendo considerado fundamental pela não concretização do golpe de Estado no país após a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O papel do então comandante da Aeronáutica, brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior, veio à tona com o depoimento que prestou à Polícia Federal. E o mesmo vale para o seu colega do Exército, general Marco Antônio Freire Gomes, cujo desempenho nesse episódio oscilou entre a desconfiança de quem sabia e se omitiu e o proceder de quem reagiu à altura de um defensor da democracia. Soube-se nesta sexta-feira que o general ameaçou Bolsonaro com voz de prisão caso tocasse adiante o plano antidemocrático.
Na oitiva à PF, em 17 de fevereiro deste ano, Baptista disse que na reunião de dezembro de 2022 que Bolsonaro fez com os chefes das Forças Armadas, ele se recusou a receber a minuta golpista pretendida pelo então presidente e saiu da sala.
Baptista Junior também afirmou que Freire Gomes ameaçou prender o chefe do Executivo. "(Disse) que em uma das reuniões dos comandantes das Forças com o então presidente, após o segundo turno das eleições, depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de institutos previstos na Constituição, Garantia da Lei e da Ordem (GLO), ou estado de defesa, ou estado de sítio, o então comandante do Exército, general Freire Gomes, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o presidente da República", relatou o brigadeiro à PF.
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Perguntado se a postura do general Freire Gomes de não aderir à tentativa de golpe foi fundamental para evitar que algo semelhante ocorresse, o militar respondeu que sim.
"Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta de decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante, respondeu que sim, que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente a tentativa de golpe de Estado teria se consumado."
O brigadeiro, que depôs como testemunha, destacou ter dito a Bolsonaro que não houve fraude na eleição, mas que o então presidente não se convencia. "Indagado, respondeu (Baptista) que constantemente informou a Bolsonaro que não houve fraude, que não encontraram qualquer fraude ou vulnerabilidade que comprometesse o resultado das eleições", diz outro trecho do depoimento.
Já Freire Gomes contou à PF que sofreu ataques e pressão por não concordar com o golpe nessas reuniões com Bolsonaro. Sobre pedir a prisão do então presidente, o general foi menos incisivo do que a versão do brigadeiro.
"Inclusive chegou a esclarecer ao então presidente da República, Jair Bolsonaro, que não haveria mais o que fazer em relação ao resultado das eleições e que qualquer atitude, conforme as propostas, poderia resultar na responsabilização penal do então presidente."
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