dia internacional da mulher

'Fomos silenciadas, mas sempre continuamos falando', diz Cármen Lúcia

Única ministra entre os 11 integrantes do STF, magistrada faz homenagem à mulher brasileira e destaca a luta pela paridade de gênero

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), fez um discurso sobre o apagamento feminino ao longo da história. Em sessão especial na Corte, a magistrada falou sobre a luta pela igualdade de gênero e a violência praticada no país.

"Dizem que nós fomos silenciosas historicamente. Mentira. Nós fomos silenciadas, mas sempre continuamos falando, embora, muitas vezes, não sendo ouvidas", enfatizou.

Cármen Lúcia é a única mulher entre os 11 ministros do Supremo. Na história de 132 anos da Corte, ela está entre as três alçadas ao posto. As outras duas são as ministras aposentadas Rosa Weber e Ellen Gracie.

A magistrada também destacou os índices de violência contra a mulher. Em 2023, houve um feminicídio a cada seis horas no Brasil, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

"Num país que assassina mulheres, num país em que as crianças são também assassinadas até mesmo no espaço doméstico é preciso se dizer que este país precisa muito que nós todos comecemos a pensar sob o prisma da promoção da paz, e não apenas de combate (à violência)", sustentou. "Porque nós estamos descartando o presente e destruindo ilusão com o futuro de humanidades e respeito à vida."

Ela frisou a batalha diária das mulheres e acrescentou que as pedras fazem parte do caminho. "Quero continuar acreditando que nós somos capazes de superar e tirá-las do caminho para não ferir os pés, mas continuar seguindo", disse. "Não há como desconhecer as tantas e quantas pedras, e, às vezes, elas são literais, como nesses tempos de cancelamento, que é uma nova forma de apedrejamento contra as desiguais."

Cármen Lúcia também participou, nesta quinta-feira, de sessão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — Corte da qual é vice-presidente — em que foi julgada ação sobre os ataques desferidos à primeira-dama, Janja da Silva, durante a campanha eleitoral.

A ministra ressaltou que "o discurso de ódio contra as mulheres se acentua de forma proeminente, principalmente depois e nas últimas eleições". "O discurso de ódio contra a mulher é diferente do discurso contra os homens. É sexista, de costumes, para atingir a família, os filhos, os pais", destacou.

A Corte analisou ação contra a Rádio Jovem Pan e a comentarista Pietra Bertolazzi por disseminação de fake news contra Janja. À época, Pietra sustentou que Janja era usuária de maconha e estava rodeada por "um monte de artista maconhista (sic)".

A magistrada apontou que a situação "é enormemente prejudicial". "Enquanto fazemos um esforço para as mulheres participarem de eleições, isso as afasta da disputa", considerou.

O TSE definiu uma multa de R$ 30 mil, aplicada para cada um (emissora e comentarista), por entender que o comentário, em meio ao contexto eleitoral, prejudicava ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva. 

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