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Marketing de Lula: Estratégias do governo buscam criar popularidade ‘pessoal’

Arthur Reis, especialista de marketing político, analisa movimentações de Lula como uma tentativa de se reaproximar com o público por identificação

Lula posta vídeo correndo em suas redes sociais  -  (crédito: Reprodução/Redes Sociais)
Lula posta vídeo correndo em suas redes sociais - (crédito: Reprodução/Redes Sociais)

As redes sociais se tornaram uma ferramenta poderosa na comunicação política atual. Criação de postagens, compartilhamento de vídeos, interação com os seguidores, tudo isso faz parte de uma tentativa de ganho de público consumidor e apoiador de ideias e ações. E a cada ano que passa a sociedade sente mais o impacto das redes sociais também no cenário político.

Na manhã desta terça-feira (19/3), o presidente Lula publicou no perfil no Instagram um vídeo onde aparece correndo, junto de uma mensagem de incentivo ao exercício físico. “É um convite que eu faço a todos vocês que querem viver de forma saudável. Querem aproveitar um pouco mais a vida, chegar aos 120 anos, como eu pretendo chegar”.

“Ele está buscando mostrar o dia a dia dele, mostrar que ele também faz parte de um grupo de pessoas normais”, analisa o marketeiro político Arthur Reis. Na opinião do especialista, o presidente, ao lançar multimídias como esta, busca ter uma identificação com seus eleitores para além dos vieses ideológicos políticos, tratando de assuntos corriqueiros e simples. “Essa virada de chave da comunicação do Lula, em trazer essa persona para um lado pessoal, permite que ele construa uma imagem idêntica ao que o ex-presidente Bolsonaro fez no passado, mostrando toda sua rotina do dia”, avalia.

“Hoje, a rede social é um instrumento que fomenta a curiosidade, e que todos utilizam para mostrar o que há de melhor, e isso tem de ser feito durante o processo político, mas também durante o mandato político. As redes sociais têm normas, têm leis. Elas não servem apenas para atacar, elas servem para construir autoridade, esta que deve ser desenvolvida”, afirma Reis.

Não é a primeira vez que líderes de governo utilizam da esfera da saúde para se promover como lideranças. Um exemplo claro do uso da ‘virilidade’ para impor aspectos de soberania foram os movimentos contra a vacina da covid-19 usada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Suas falas de “histórico de atleta” para rebater a necessidade de imunização foram muito utilizadas para a formação de um movimento antivacina que atuou forte no país durante os anos do governo Bolsonaro. No entanto, vale ressaltar que a estratégia adotada por Bolsonaro não era apoiada pelos principais especialistas em saúde coletiva, como a Organização Mundial da Saúde (OMS). 

Expandindo as fronteiras, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, também se utilizou da imagem de atleta para tentar se manter na popularidade. O termo “esportokratura”, que mistura as palavras “esporte”, “kratos” (poder, na mitologia grega) e “nomenklatura” (se refere à elite soviética) foi criado pelo francês Lukas Aubin, especialista em geopolítica da Rússia e de esporte na Universidade Paris-Nanterre,  e descreve a intenção de criar uma imagem de masculinidade para o líder russo através dos esportes.

Marketing governamental de Lula

Para além do âmbito pessoal, a comunicação governamental de Lula também está prestes a enfrentar mudanças bruscas. Impulsionada pela pesquisa do Instituto Brasileiro para Regulação da Inteligência Artificial (Iria), que demonstram a queda de interações com os perfis sociais do atual presidente Lula em comparação com o aumento interativo entre apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, a última reunião ministerial, que ocorreu na segunda-feira (18/3), deslanchou sob um tom de cobrança para uma melhor comunicação de entregas, iniciativas e atividades realizadas pelo Poder Executivo, destacando à população aquilo que já foi feito, e o que ainda está previsto para ser realizado.

No entendimento de Reis, a comunicação offline, aquela que ocorre nas ruas, fora das redes sociais, tem um papel importante em todo o processo de popularidade entre os dois políticos. "Bolsonaro consegue atrair uma parte de engajamento devido a mobilização que ele tem de rodar o país. Essa é uma vertente onde o Bolsonaro vem crescendo dentro das redes sociais”, afirma.

O fato de Lula ter perdido o engajamento se firma na falta de estratégia de marketing de seu time. “O primeiro ato da equipe dele era para ter uma estratégia política para poder construir esse posicionamento inicial que não foi feito, ou seja, ele está agindo como se estivesse em época de campanha, e esse não é o momento, agora é época de mandato. A comunicação dele tem que ser feita através do olhar do mandato, já que ele está a um ano e meio no poder. O Lula precisa criar uma comunicação ativa para o mandato”, finaliza Arthur Reis.

*Estagiária sob supervisão de Pedro Grigori

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postado em 19/03/2024 20:42
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