JUSTIÇA

'Lava-Jato terminou como uma organização criminosa', diz Gilmar Mendes

Operação perdeu força a partir de 2018, quando o então juiz Sérgio Moro, que conduzia a operação, aceitou o convite de Jair Bolsonaro (PL) para assumir o Ministério da Justiça

Gilmar Mendes concedeu entrevista à Agência Brasil. Ele também afirmou ter convicção de que os procedimentos suspeitos da Lava Jato não eram apenas
Gilmar Mendes concedeu entrevista à Agência Brasil. Ele também afirmou ter convicção de que os procedimentos suspeitos da Lava Jato não eram apenas "uma irregularidade procedimental", e sim "um movimento político" - (crédito: Carlos Moura/SCO/STF)

Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Gilmar Mendes disse que a Operação Lava Jato "terminou como uma verdadeira organização criminosa". Responsável por relevar o maior escândalo de corrupção do País, início da operação completa dez anos neste domingo, 17. Para o ministro, Lava Jato produziu distorções no sistema jurídico e político, deixando um salto "marcadamente negativo".

"Acho que a Lava Jato fez um mal enorme às instituições", afirmou Mendes em entrevista à Agência Brasil. "O que a gente aprendeu? Eu diria em uma frase: não se combate o crime cometendo crimes. Na verdade, a Lava Jato terminou como uma verdadeira organização criminosa, ela envolveu-se em uma série de abusos de autoridades, desvio de dinheiro, violação de uma série de princípios e tudo isso é de todo lamentável", disse.

Inicialmente favorável à força-tarefa de Curitiba, o decano do STF reconsiderou sua posição ao longo dos últimos anos, tornando-se um crítico da operação na Corte. Antes disso, porém, declarou em novembro de 2015 que a investigação da Lava Jato havia revelado "um modelo de governança corrupta, algo que merece o nome claro de cleptocracia". Na mesma ocasião, Mendes atribuiu ao PT a crise que abalava o País naquele momento.

A Lava Jato perdeu força a partir de 2018, quando o então juiz Sérgio Moro, que conduzia a operação, aceitou o convite de Jair Bolsonaro (PL), que acabara de se eleger presidente da República, para assumir o Ministério da Justiça.

O movimento político do magistrado, que havia condenado o então ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, alijando o petista das eleições daquele ano, abriu espaço para especulações sobre as suas intenções.

Em 2019, um novo revés. Críticos da operação aumentaram o tom dos questionamentos após mensagens trocadas por procuradores e Moro, acessadas por um hacker, se tornarem públicas.

O conteúdo, revelado pelo site The Intercept Brasil, indicava uma parceria entre o então juiz e os procuradores na condução da Lava Jato, uma proximidade que, na avaliação de ministros do Supremo, violou a Constituição e regras básicas do Direito.

Na entrevista à Agência Brasil, Mendes ainda afirmou que ganhou convicção de que os procedimentos suspeitos da Lava Jato não eram apenas "uma irregularidade procedimental", e sim "um movimento político".

"A Lava Jato não era uma operação puramente judicial, eles fizeram uma força-tarefa e lograram um apoio público muito grande, um apoio de mídia. Tenho a impressão que esse apoio de mídia teve também um efeito inibitório sobre o Supremo", avaliou o decano.

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postado em 17/03/2024 18:40 / atualizado em 17/03/2024 20:56
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