Em depoimento prestado à Polícia Federal, em 17 de fevereiro deste ano, o brigadeiro e ex-comandante da Aeronáutica Carlos Almeida Baptista Jr. fez revelações graves sobre a tentativa de golpe no país, após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva.
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O conteúdo compromete não apenas o ex-presidente Jair Bolsonaro, que insistia em uma saída para tentar reverter o resultado, mas também o ex-ministro da Justiça à época, Anderson Torres, e a deputada Carla Zambelli (PL-SP).
Sobre Carla Zambelli, o brigadeiro contou que foi abordada pela parlamentar, no dia 8 de dezembro de 2022, após formatura dos aspirantes da FAB, em Pirassununga (SP), com a seguinte indagação:
"Brigadeiro, o senhor não pode deixar o presidente Bolsonaro na mão". E que respondeu a ela: "Deputada, entendi o que a senhora está falando e não admito que a senhora proponha qualquer ilegalidade".
Baptista afirmou que relatou esse fato ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que revelou a ele ter sido abordado por Zambelli "de forma semelhante"
O brigadeiro, que depôs como testemunha, negou que houve fraude da eleição e que comunicou essa informação a Bolsonaro, que não se convencia.
O militar afirmou que foi entre cinco a seis vezes no Palácio do Alvorada se reunir com o ainda presidente, atendendo a seu chamado, em novembro, após o resultado da eleição já ser conhecido. E que ele, e outros integrantes do governo, informaram a Bolsonaro que as eleições foram limpas.
"Indagado, respondeu (o brigadeiro) que constantemente informou a Bolsonaro que não houve fraude, que não encontraram qualquer fraude ou vulnerabilidade que comprometesse o resultado das eleições", diz trecho do depoimento de Baptista Jr.
Numa dessas reuniões, Bolsonaro perguntou ao ministro da Advocacia-Geral da União (AGU), Bruno Bianco, "se haveria algum ato que poderia fazer contra o resultado das eleições". E, diz Baptista à PF, que
"Bianco respondeu que a eleição transcorreu de forma legal e que não haveria alternativa jurídica de se contestar as eleições".
Freire Gomes e Torres em lados opostos
O ex-comandante da Aeronáutica também citou o papel do então ministro da Justiça, Anderson Torres, que prestava "assessoria jurídica" a Bolsonaro sobre os aspectos para se decretar ou uma Garantia da Lei e da Ordem (GLO) ou a decretação do Estado de Sítio ou do Estado de Defesa.
O brigadeiro foi perguntado também se a postura do general Freire Gomes, então comandante do Exército, de não aderir à tentativa de golpe foi fundamental para evitar que algo semelhante ocorresse, Baptista respondeu que sim.
"Indagado se o posicionamento do general Freire Gomes foi determinante para que uma minuta de decreto que viabilizasse um golpe de Estado não fosse adiante respondeu: que sim, que caso o comandante tivesse anuído, possivelmente, a tentativa de golpe de Estado teria se consumado", diz trecho do depoimento de Baptista Jr. à PF.
E afirmou ainda o brigadeiro que o então comandante da Marinha, Almir Garnier, colocou as tropas à disposição de Bolsonaro em caso de um golpe para impedir a posse de Lula.
"Que em uma das reuniões com os comandantes das Forças após o segundo turno das eleições, dentro do contexto apresentado pelo então presidente Jair Bolsonaro, de utilização dos institutos, de GLO e defesa, o então comandante da Marinha, Almir Garnier, afirmou que colocaria suas tropas à disposição de Jair Bolsonaro", diz trecho de seu depoimento.
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