O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se disse, ontem, "feliz" com o anúncio de eleições na Venezuela, marcadas para 28 de julho, data do aniversário do ex-presidente Hugo Chávez. Em mais uma defesa do governo de Nicolás Maduro, criticou a oposição do país vizinho, que, segundo ele, deveria indicar outro candidato — em referência a Maria Corina Machado, declarada inelegível pela Suprema Corte venezuelana — para disputar o pleito "ao invés de ficar chorando".
"Sabem o que fiquei feliz? Que foram marcadas as eleições na Venezuela", comentou com jornalistas, no Palácio do Planalto, ao receber o presidente do governo da Espanha, Pedro Sánchez. E acrescentou:
"Neste país, fui impedido de concorrer às eleições de 2018. Ao invés de ficar chorando, indiquei um outro candidato (o hoje ministro da Fazenda, Fernando Haddad) que disputou as eleições. Na Venezuela, estão marcadas as eleições para 28 de julho. Agora, a pergunta é se a eleição vai ser honesta ou não. Espero que as eleições sejam as mais democráticas possíveis", frisou. Questionado se considera que o pleito será justo, Lula afirmou que o presidente venezuelano prometeu convidar observadores internacionais para acompanhar o processo.
Ao novamente defender Maduro, que tenta se reeleger pela terceira vez — a primeira reeleição, em 2018, foi considerada fraudulenta e o resultado deixou de ser reconhecido pela oposição —, Lula não poupou críticas à oposição venezuelana. E comparou os adversários do presidente do país vizinho aos aliados de Jair Bolsonaro, que questionam as urnas eletrônicas e o resultado da corrida presidencial de 2022.
"Se o candidato da oposição tiver o mesmo comportamento que o nosso aqui, nada vale", afirmou. Segundo Lula, Maduro precisa ter a "presunção de inocência" e salientou que não se pode lançar dúvida sobre as eleições venezuelanas antes que aconteçam.
"Espero que sejam as mais democráticas possíveis", enfatizou, acrescentando que confia que o país fará um evento "justo" para retomar a participação no cenário internacional.
Ao lado de Sanchéz, Lula aproveitou para atacar Bolsonaro — interrompeu uma pergunta para se dirigir diretamente ao colega espanhol. "Há dois anos, o presidente teve a insensatez, a falta de pudor, a falta de vergonha, de convocar os embaixadores. Embaixadores do mundo inteiro estiveram reunidos para (ele) insinuar que as eleições no Brasil não eram honestas, que (ele) iria ser roubado", criticou.
Sánchez, por sua vez, comentou apenas que a Espanha defende, há anos, que haja eleições na Venezuela. "Celebramos que tenham sido convocadas as eleições presidenciais e esperamos que se celebrem com as garantias democráticas que os venezuelanos precisam", observou.
A realização de eleições na Venezuela, neste ano, é parte de um acordo com o país vizinho para levantar as sanções econômicas impostas pelos Estados Unidos. Washington, porém, ameaça retomar as medidas em função de denúncias de prisões de opositores feitas pelo governo Maduro.
Corina rebate
Ao saber da crítica de Lula, Maria Corina recorreu às redes sociais para rebater o presidente. "Eu chorando, presidente Lula? O senhor diz porque sou mulher? O senhor não me conhece. Estou lutando para fazer valer o direito de milhões de venezuelanos, que votaram em mim nas primárias, e os milhões que têm direito de votar em eleições presidenciais livres, nas quais derrotarei o Maduro", publicou no X (antigo Twitter).
Ainda segundo Maria Corina, "a única verdade é que Maduro tem medo de me enfrentar porque sabe que o povo venezuelano está hoje na rua comigo".
Vingança de Israel
Apesar da afirmar que pretendia retribuir a hospitalidade com que foi recebido por Sánchez, quando visitou Madri, no ano passado, ao falar para o público Lula deu mais ênfase à sua agenda externa. Tanto que, além da Venezuela, voltou a criticar as ações do governo de Israel na Faixa de Gaza.
Segundo o presidente, "o direito de defesa (israelense) transformado em direito de vingança constitui, na prática, punição coletiva que mata indiscriminadamente mulheres e crianças". "Se alguém tinha dúvida, as últimas imagens do que aconteceu em Gaza mostram para que todos nós, seres humanos, não percamos o humanismo que ainda temos. Não sejamos algoritmos, sejamos seres humanos", enfatizou, acrescentando que o Brasil enviou 30 toneladas de alimentos aos palestinos que não conseguem chegar àquela região.
Ao também ser indagado sobre a situação humanitária em Gaza, Sánchez concordou com Lula ao afirmar que Israel extrapola o direito de defesa. "Temos dúvidas razoáveis de que Israel esteja cumprindo o direito internacional humanitário", lamentou o presidente espanhol.
No encontro, Lula e Sánchez trataram do acordo entre o Mercosul e a União Europeia, travado sobretudo por causa da posição da França em defesa de sua indústria agrícola. O presidente brasileiro, porém, afirmou que se mantém otimista.
"Não voltamos atrás. Nunca avançamos tanto quanto estamos avançando. Dificuldades que haviam foram acertadas com a União Europeia. Nós, hoje, estamos prontos para assinar o acordo", garantiu.
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