Nem precisava que o ex-governador do Ceará e ex-presidenciável Ciro Gomes provocasse — em entrevista à emissora CNN Brasil, que foi ao ar ontem, cobrou de Luiz Inácio Lula da Silva: "Larga de querer ser popstar estrangeiro e venha trabalhar aqui". Isso porque já estava nos planos do presidente da República a diminuição nas idas ao exterior.
No entendimento do Palácio do Planalto, as tarefas que Lula tinha para fazer fora do Brasil estão concluídas, pelo menos por enquanto. A intenção, desde que assumiu o comando do governo, era a de reinserir o país na comunidade internacional e reconstruir as pontes que foram detonadas durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro. Além disso, as viagens faziam parte do projeto do presidente de se colocar como um interlocutor para as duas principais guerras em curso — a da invasão da Ucrânia pela Rússia e o confronto na Faixa de Gaza entre as forças de Israel e o grupo terrorista Hamas — como mais destacado líder do Sul Global.
"Viajei demais em 2023. Vocês sabiam que eu ia viajar, porque era preciso recuperar a imagem do Brasil e construir uma imagem positiva do Brasil no mundo. O Brasil voltou a ter importância", afirmou Lula.
Mas, agora, as prioridades são outras. Depois das idas ao Egito e à Etiópia, em fevereiro, e mais recentemente à Guiana e a São Vicente e Granadinas, no Caribe — onde participou da reunião da Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) —, a agenda de 2024 é rodar pelo Brasil e consolidar a presença do governo, com vistas às eleições municipais de outubro. Este ano será dedicado ao lançamento de obras, de apoiar aliados e de, se possível, aumentar o leque de parceiros políticos.
"Se preparem porque vou percorrer o Brasil. Quero visitar o Brasil, quero visitar as cidades, conversar com prefeitos, com o povo, com os governadores", anunciou, no final do ano passado.
Costuras
Em janeiro, a primeira região a ser visitada pelo presidente foi o Nordeste, fundamental para a vitória sobre Jair Bolsonaro na eleição de 2022. Mas isso não quer dizer que não existam apoiadores do ex-presidente e que não tentarão manter a presença política da extrema direita no pleito municipal, em outubro. Exemplos disso são os ex-ministros Marcelo Queiroga, da Saúde, João Roma, da Cidadania, e Gilson Machado, do Turismo, que devem disputar as prefeituras de João Pessoa, Salvador e Recife, respectivamente, empunhando a bandeira do bolsonarismo.
Lula esteve na Bahia, em Pernambuco e no Ceará em janeiro. Em fevereiro, deu atenção a Minas Gerais e São Paulo, maiores colégios eleitorais do país — e governados pelos adversários Romeu Zema e Tarcísio de Freitas —, para a formação de chapas e palanques. No Rio de Janeiro, o presidente tenta alavancar a reeleição do prefeito Eduardo Paes e já acenou que gostaria de ver a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, como vice da chapa. Resta, porém, convencer o PT local a aceitar a indicação.
Em São Paulo, o presidente ungiu a ex-senadora Marta Suplicy como vice na chapa de Guilherme Boulos (PSol) e torce para que o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), vá para a disputa com o apoio do bolsonarismo. Isso porque facilitará a "nacionalização" da campanha, abrindo a possibilidade de desgastar o governador Tarcísio — que diante da inelegibilidade de Bolsonaro, vem sendo apontado com possível candidato da extrema direita às Presidência em 2026.
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