Crescimento econômico

Em R$ 10,9 trilhões, agropecuária puxa alta de 2,9% na economia brasileira

Dados divulgados nesta sexta-feira (1°/3) pelo IBGE mostram que economia brasileira ainda é dependente da produção agrícola. Indústria segue quase parada

A alta de 2,9% contou com 2,0 pontos porcentuais do setor externo, informou o IBGE -  (crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press)
A alta de 2,9% contou com 2,0 pontos porcentuais do setor externo, informou o IBGE - (crédito: Breno Fortes/CB/D.A Press)

Com alta recorde da agropecuária, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 2,9% em 2023, três vezes o resultado previsto no início do ano passado, e fechou 2023 em R$ 10,9 trilhões. Segundo os dados, divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o resultado veio ligeiramente abaixo da mediana projetada, mais recentemente, por analistas de mercado e do próprio governo, que trabalhavam com um crescimento de cerca de 3% para o período de 12 meses.

O PIB per capita alcançou R$ 50.194, um avanço, em termos reais, ou seja, já descontada a inflação, de 2,2% em relação a 2022. O desempenho da economia brasileira teve dinâmicas diferentes entre o primeiro e segundo semestres. Na primeira metade do ano, a atividade econômica foi puxada por uma safra excepcional de grãos. Sem a colheita atípica, o último semestre mostrou uma desaceleração e fechou estável em 0%. O grande destaque do último ano foi a atividade agropecuária, que registrou expansão de 15,1% em relação ao ano anterior, sustentando significativamente o crescimento do país.

“Esse comportamento foi puxado muito pelo crescimento de soja e milho, duas das mais importantes lavouras do Brasil, que tiveram produções recorde registradas pelo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA)”, explicou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis. O setor, que engloba agropecuária, agroindústria, insumos, distribuição e outros serviços, ajudou também o resultado de outros segmentos, como as exportações, a indústria de alimentos e segmentos específicos do setor de serviços, que são beneficiados pela cadeia de produção e logística do campo. “Mesmo com um peso relativamente pequeno dentro do PIB brasileiro, a agropecuária contribuiu com um terço de todo o crescimento da economia no ano passado”, destacou a coordenadora.

ECO-PIB
ECO-PIB (foto: Valdo Virgo)

Ainda sob a ótica da produção, houve uma expansão de 2,4% no setor de serviços e de 1,6% na indústria. O desempenho das indústrias extrativas acabou responsável pela influência positiva do setor no resultado de 2023, a atividade teve alta de 8,7% devido ao aumento da extração de petróleo e gás natural e de minério de ferro. Outro destaque foi a indústria de serviços de utilidade pública, como eletricidade e gás, água, esgoto, atividades de gestão de resíduos, que apresentou um crescimento de 6,5%. Em serviços, por sua vez, todas as atividades tiveram crescimento, com destaque para atividades financeiras, de seguros e serviços relacionados à intermediação (6,6%).

As empresas seguradoras tiveram um ganho comparando os prêmios recebidos em relação aos sinistros pagos. Para o economista José Luiz Oreiro, professor da Universidade de Brasília (UnB), os dados, pelo lado da oferta, apontam para um crescimento “mediano, de má qualidade e não sustentável”. Ele destacou o desempenho da indústria de transformação, setor mais intensivo em tecnologia e na matriz produtiva, que apresentou uma queda de 1,3%. “O processo de desindustrialização da economia brasileira continua de vento em popa, apesar de todo o discurso da equipe econômica sobre uma neoindustrialização da economia brasileira”, apontou.

Consumo

A alta de 2,9% contou com 2,0 pontos porcentuais do setor externo, informou o IBGE. Já a demanda interna respondeu por 0,9 ponto porcentual do crescimento da economia no ano. Esse comportamento inverte o verificado em 2022, quando a demanda interna contribuiu mais. Pelo lado da demanda, o consumo das famílias subiu 3,1% em 2023, influenciado pela melhora das condições do mercado de trabalho, com aumento da ocupação, do salário real e da queda da inflação.

De acordo com a coordenadora de contas do IBGE, os programas de transferência de renda do governo colaboraram de maneira significativa com o crescimento do consumo das famílias, especialmente em alimentação e produtos essenciais não duráveis. O ponto mais preocupante do resultado do PIB do ano passado foi a nova queda dos investimentos. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) apresentou uma queda de 3,0%, ficando em 16,5% do PIB em 2023. O percentual é o mais baixo para um fechamento de ano desde 2019, quando foi de 15,5%.

O índice registra a variação da capacidade produtiva futura de uma economia. A redução teve destaque no item de máquinas e equipamentos, com queda de 9,4%. Para completar, a taxa de poupança, considerada também fundamental para financiar o investimento, recuou para 15,4% do PIB do PIB no ano passado, ante 15,8% do PIB de 2022. Mesmo com a taxa básica de juros (Selic) em queda desde agosto do ano passado, os juros ainda seguem em um patamar alto a 11,25% ao ano, o que inibe o investimento. Segundo o professor da UnB, o baixo nível de investimento torna o crescimento da economia brasileira insustentável a médio prazo. “Pode levar a um aumento da pressão inflacionária, produzindo um fim prematuro do atual ciclo de queda da taxa Selic.

Para que a economia brasileira possa crescer de forma sustentada a, pelo menos, 3% ao ano, a taxa de investimento precisa ser aumentada para 20% do PIB”, apontou Oreiro. Como a expectativa é de que a Selic siga em queda, podendo atingir 9% ao ano, a perspectiva se torna mais favorável para para o potencial de investimentos em 2024, conforme destacou o economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto. “Se o governo mantiver a linha da política fiscal, determinada pelo ministro da Fazenda (Fernando Haddad), 2024 poderá até apresentar crescimento econômico um pouco menor que o do ano anterior, mas com uma composição muito boa”, apontou. Segundo ele, a expectativa é de que a indústria deve se recuperar, nas esteiras da alta do consumo e do investimento. “O momento é de otimismo, mas é sempre bom manter cautela, sobretudo com tantas pressões por gastos novos, que precisarão ser neutralizadas”, avaliou.

Olhando para frente, o economista do PicPay, Igor Cadilhac, vê um cenário base seguindo em desaceleração, da atividade econômica, ainda que cada vez mais contida. “De um lado temos os efeitos defasados da política monetária, a dissipação do impulso no período pós-pandemia e um ajuste fiscal concentrado na elevação de arrecadação e impostos; por outro, ainda temos observado um mercado de trabalho aquecido, uma retomada do setor industrial global, impulsionada pela normalização dos estoques, e a permanência de alguns estímulos governamentais dado, inclusive, as eleições regionais”, apontou o analista, que projeta em um crescimento de 1,8% no PIB este ano.

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postado em 02/03/2024 03:50
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