Ato na paulista

Bolsonaro defende anistia a extremistas e prisões mais brandas, em ato

Sem ataques à democracia, ex-presidente falou em pacificação do Brasil e pediu penas mais brandas para condenados

Em um ato que reuniu centenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista, na tarde de ontem, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma demonstração de força política. O intuito foi destacar que ainda tem capacidade de arrastar multidões de apoiadores e tem ao seu lado deputados, senadores, religiosos e governadores. No entanto, por outro lado, ao contrário do que fez durante a campanha eleitoral e em seus quatros anos de governo, o político moderou no discurso, deixou de atacar as instituições e defendeu anistia para os extremistas condenados por participação nos atentados de 8 de janeiro, em Brasília.

Jair Bolsonaro discursou por cerca de 25 minutos na maior avenida de São Paulo, que estava com cerca de 5 quarteirões ocupados por manifestantes. Em cima de um trio elétrico, afirmou que pretende "pacificar o Brasil" e falou em "passar uma borracha no passado". Além do ex-presidente, compareceram ao ato o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, a vice-governadora do Distrito Federal, Celina Leão, e deputados como Nikolas Ferreira e Marco Feliciano.

Além deles, o pastor Silas Malafaia, apontado como o grande organizador do ato, discursou e proferiu ataques contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Os filhos de Bolsonaro, Eduardo, Flávio, Jair Renan e Carlos Bolsonaro, que geralmente estão nas manifestações convocadas pelo pai, não estiveram presentes. Eduardo publicou nas redes sociais uma mensagem dizendo que não conseguiria chegar a tempo em razão do atraso em um voo.

Bolsonaro começou citando a facada que levou em Juiz de Fora, em Minas Gerais, por parte de Adélio Bispo, a quem ele chamou de "militante do PSol", relembrou alguns feitos do governo na época em que estava na Presidência, e pediu que deputados e senadores aprovem um projeto para anistiar os participantes dos atentados de 8 de janeiro.

"Por parte do Parlamento brasileiro, [deputados] Nikolas [Ferreira], [Luciano] Zucco, [Marco] Feliciano, meus colegas aqui do lado, é uma anistia para aqueles pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós não queremos mais que seus filhos sejam órfãos de pais vivos. Nós já anistiamos, no passado, quem fez barbaridade no Brasil", declarou.

Ele defendeu que os condenados que, comprovadamente, vandalizaram patrimônio público sejam obrigados a pagar pelos prejuízos que causaram, mas que sejam liberados. Sem citar os ministros do Supremo, ele reclamou das penas, que disse serem excessivas. "Quem porventura depredou patrimônio, que nós não concordamos com isso, que paguem. Mas essas penas fogem ao mínimo da razoabilidade. Nós não podemos entender o que levou poucas pessoas a apenaram tão drasticamente esses pobres coitados que estavam lá no 8 de janeiro de 2023", completou.

Bolsonaro também se disse vítima de perseguição. "Passei quatro anos sendo perseguido enquanto presidente da República... Saí do Brasil e essa perseguição não terminou. É joia, é importunação de baleia, é dinheiro que teria mandado para fora do Brasil", completou.

Minuta do golpe

Durante toda a fala, Bolsonaro evitou citar as investigações da Polícia Federal, comentar as acusações que pesam contra ele no inquérito que Corre na Suprema corte ou citar diretamente os nomes dos magistrados. No entanto, no final do discurso, ele citou a minuta encontrada na sede do PL, na área em que ele despachava, em Brasília. Nas declarações, reconheceu a existência do documento, que seria usado para decretar estado de sítio, mas negou que seja de teor golpista.

O ex-presidente afirmou que o rito para se decretar estado de sítio depende do Congresso Nacional e que os procedimentos previstos na Constituição não foram realizados. "Continuam me acusando de golpe. Agora o golpe é porque tem uma minuta de um decreto de Estado de defesa. Golpe usando a Constituição? Tenham a santa paciência. Golpe usando a Constituição. Deixo claro que o estado de sítio começa com o presidente da República convocando os conselhos da República e da Defesa. Isso foi feito? Não. Apesar de não ser golpe estado de sítio, não foi convocado ninguém dos conselhos da República e da Defesa para se colocar no papel a proposta de estado de sítio", completou ele.

Um dos participantes do ato foi o presidente do Partido Liberal (PL), Valdemar da Costa Neto, que também é alvo do mesmo inquérito que Jair Bolsonaro por suspeita de organizar um golpe de Estado. Por determinação do ministro Alexandre de Moraes, nenhum dos dois pode conversar com os demais investigados. Ou seja, Bolsonaro e Valdemar não podem se comunicar, sob risco de serem alvos de mandados de prisão preventiva.

Enquanto Valdemar discursava na manifestação bolsonarista, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) esperou dentro de um carro. Para evitar contato com o ex-chefe do Executivo, o cacique do partido subiu ao palanque por volta das 13h. Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Bolsonaro ficou dentro do veículo com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o deputado federal Luciano Zucco (PL-RS).

Também são alvos do inquérito o general Augusto Heleno e o ex-ministro da Justiça Anderson Torres. Eles não compareceram ao evento. Ao Correio, um dos advogados de Bolsonaro afirmou que sequer sabia da presença de Valdemar no ato, mas garantiu que está "tudo sob controle". De acordo com a defesa do ex-presidente, "as decisões do ministro Alexandre estão sendo rigorosamente observadas". "Tudo está sendo cumprido, como sempre foi. Bolsonaro e Valdemar estão em lugares separados e não vão ter contato. Tudo está controlado, é um ato pacífico", assegurou.

 


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