O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, não cobrou retração ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva por ter comparado as ações de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto. Os dois se reuniram, nesta quarta-feira, no Palácio do Planalto, na primeira visita oficial do americano ao Brasil. Blinken, porém, deixou claro que os EUA não concordam com a declaração do líder brasileiro, como havia divulgado o Departamento de Estado americano na terça-feira.
O representante americano também reiterou a Lula que os EUA atuam para negociar o fim do conflito e a libertação de reféns. De acordo com nota divulgada pelo Planalto, os dois países defendem a criação de um Estado Palestino da região. "O presidente Lula reafirmou seu desejo pela paz e fim dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza", diz o texto.
Ao deixar o Planalto, Blinken fez apenas um breve comentário. "Foi um encontro muito bom. Estou grato pelo presidente Lula e pelo seu tempo. Os Estados Unidos e o Brasil têm muitos projetos em comum e trabalhamos juntos de forma bilateral, regional e global. É uma parceria muito importante, e estamos gratos", enfatizou.
Questionado sobre a guerra em Gaza, porém, ele não respondeu. Em sua conta no X (antigo Twitter), Blinken destacou que o Brasil é um parceiro importante para medidas de valorização dos trabalhadores e combate às mudanças climáticas. "Enquanto nos aproximamos dos 200 anos de relação entre Brasil e EUA, nossos laços estão mais fortes do que nunca", frisou.
Lula, por sua vez, comentou o encontro apenas em suas redes. "Conversamos sobre o G20, a iniciativa pela melhoria da condição dos trabalhadores que lançamos com o presidente Biden, a proteção do meio ambiente, a transição energética, a ampliação dos laços de investimento e cooperação entre nossos países e sobre a paz na Ucrânia e em Gaza", declarou.
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Na conversa entre os dois, de quase duas horas, trataram também das eleições venezuelanas e de mudanças climáticas. Blinken citou, inclusive, a possibilidade de uma nova doação ao Fundo Amazônia.
A comitiva americana chegou ao Planalto por volta das 9h. Blinken estava acompanhado da embaixadora dos Estados Unidos no Brasil, Elizabeth Bagley. Já Lula teve ao seu lado o assessor especial da Presidência e ex-chanceler Celso Amorim.
Antes de iniciar a conversa a portas fechadas, o chefe do Executivo perguntou a Blinken quando serão as eleições presidenciais americanas. O secretário respondeu que são em novembro, e que a campanha, agora, está focada em "quatro ou cinco estados", já que a maioria dos votos está decidida por conta da polarização: os concorrentes são o atual presidente, Joe Biden, e o antecessor dele, Donald Trump.
Venezuela
Outro tema espinhoso tratado no encontro foi a relação com a Venezuela, governada por Nicolás Maduro. Blinken elogiou Lula pela atuação do Brasil para desescalar o conflito com a Guiana, após ameaça venezuelana de invasão militar da região de Essequibo. O secretário, porém, criticou a gestão Maduro por descumprir tratados firmados para permitir uma eleição livre no país, ainda neste ano, os Acordos de Barbados.
Em outubro de 2023, a Venezuela assinou os pactos para garantir que membros da oposição pudessem concorrer livremente nas eleições presidenciais. Como parte do trato, os EUA suspenderam sanções contra o país latino-americano. Porém, após prisões de opositores pelo governo de Maduro e medidas para impedir sua participação no pleito, a gestão Biden retomou algumas das restrições.
O Brasil participou da negociação. Embora o governo Lula não tenha criticado publicamente as ações do presidente venezuelano que violam o tratado, Celso Amorim divulgou uma nota, no começo do mês, reiterando o apoio brasileiro aos Acordos de Barbados.
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