A crise diplomática tem repercussão, também, no Congresso. Nesta terça-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), afirmou que o Brasil deve desculpas a Israel após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva comparar a guerra em Gaza ao Holocausto.
"Ainda que a reação perpetuada pelo governo de Israel venha a ser considerada indiscriminada e desproporcional, não há como estabelecer um comparativo com a perseguição sofrida pelo povo judeu no nazismo", enfatizou, durante sessão. "Entendemos que uma retratação dessa fala seria adequada. É fundamental que haja uma retratação e um esclarecimento, com um pedido de desculpas, pois o foco das lideranças mundiais deve estar na resolução do conflito entre Israel e Palestina."
Pacheco ainda disse que, certamente, a declaração de Lula não representa o verdadeiro pensamento do presidente, e não passou de uma "fala equivocada".
"O governo brasileiro é mundialmente conhecido por sua diplomacia moderada, então devemos mostrar nossa influência, nossa contribuição para a pacificação do conflito de modo equilibrado."
O senador Omar Aziz (PSD-AM), que se identificou como filho de palestino, rebateu Pacheco: "Presidente, me tipifique o que é matar 30 mil inocentes? Quantos terroristas foram mortos com esses ataques? E tirar 1 milhão de palestinos, dizer 'saiam daqui e vão para o gueto, porque nós vamos atacar'".
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Já o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) do Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), convidou o chanceler Mauro Vieira para prestar esclarecimentos ao colegiado e responder a "indagações e dúvidas" sobre o caso.
Segundo Calheiros, o ministro deve comparecer à Casa na primeira semana de março. "Convidei o chanceler Mauro Vieira para ir à CRE do Senado debater a crise com Israel, responder indagações e dúvidas. O ministro, como sempre, se prontificou a ir já na primeira semana de março, em virtude das agendas do G20 e outros compromissos internacionais", escreveu Calheiros, por meio das redes sociais.
Na segunda-feira, o governo Lula chamou de volta o embaixador brasileiro em Tel Aviv, Frederico Meyer, para "consultas". Na diplomacia, a ação é considerada forte indicação de descontentamento com o outro país. Também houve uma reunião de Vieira com o embaixador de Israel no Brasil, Daniel Zonshine, para esclarecimentos.
Antes do convite de Calheiros, os senadores da oposição Carlos Viana (Podemos-MG) e o líder do PL, Carlos Portinho (PL-RJ), haviam apresentado requerimento para ouvir o ministro na CRE.
Ato da oposição
Na Câmara, deputados contrários ao governo anunciaram que vão protocolar hoje o pedido de impeachment contra Lula. Os parlamentares conseguiram apoio de 122 colegas, mas adiaram a apresentação do documento para esta quarta-feira porque aguardam novos apoios.
Autora do pedido, Carla Zambelli (PL-SP) afirmou que recebeu ligação de vários deputados que querem assinar, mas estão em trânsito para a capital.
Os signatários do pedido se revezaram em discursos no Salão Verde, principal espaço de exposição na Câmara, e fizeram duros ataques a Lula.
O deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS) disse que Lula deveria estar preso e que o chefe do Executivo tem envergonhado o país. "O presidente está enlameando a imagem do Brasil no exterior", sustentou.
Alvo recente de uma ação da Polícia Federal, o deputado Carlos Jordy (PL-RJ), líder da minoria na Câmara, repudiou a fala de Lula e frisou que se trata não só de um crime de responsabilidade, mas também um crime contra a humanidade.
"Lula, agora, tenta inverter o jogo, se apresentando como a vítima dessa história. Sua declaração foi um absurdo e, em vez de fazer uma mea-culpa, ao contrário, dobra a aposta ao querer denunciar Israel em tribunais internacionais", criticou Jordy.
Expoente do bolsonarismo, Bia Kicis (PL-DF) afirmou que Lula foi o primeiro presidente brasileiro a ser considerado uma "persona non grata" por uma nação estrangeira. "É de se lamentar o que Lula fez. Em Israel, há estátuas de Oswaldo Aranha pelas ruas. Se trata do brasileiro que foi fundamental para a criação do Estado de Israel, quando presidiu a ONU na década de 1940. O presidente foi inconsequente e irresponsável", disparou.
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