São Paulo

Bancada da bala mira a escola de samba Vai-Vai

Indignados com a fantasia de uma ala que critica a tropa de choque da PM, deputados da Frente Parlamentar de Segurança Pública pedem o corte de verbas para a escola com maior número de títulos do carnaval paulistano

Deputados federais da Frente Parlamentar de Segurança Pública da Câmara, conhecida como "bancada da bala", pediram punição da escola de samba paulistana Vai-Vai. Em ofício enviado ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e ao prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) e o deputado estadual Dani Alonso (PL-SP) querem que a agremiação seja impedida de receber recursos públicos tanto da prefeitura como do estado.

"Foi com grande consternação que presenciamos a escola de samba em questão retratar, de forma deliberadamente ofensiva, os policiais militares e outros agentes de segurança como figuras demoníacas em uma de suas alegorias. Tal atitude não somente desrespeita a honra e a dignidade dos profissionais que dedicam suas vidas à proteção da sociedade, mas, também, contribui para a propagação de uma imagem negativa das forças de segurança, em um momento em que se faz mais necessário do que nunca, o reconhecimento e o apoio ao seu trabalho", alegaram no documento, assinado na segunda-feira de carnaval.

"Especificamente, proponho que a escola de samba Vai-Vai seja proibida de receber qualquer forma de recurso público no próximo ano fiscal, como forma de sanção pela conduta irresponsável e ofensiva demonstrada. Tal medida não apenas servirá de punição apropriada, mas, também, como um claro sinal de que ofensas contra as instituições e profissionais de segurança não serão toleradas em nosso estado", acrescentou o pedido, emendando que "sejam reforçadas as diretrizes e critérios para a concessão de apoio financeiro e patrocínio a entidades e eventos culturais, assegurando que estes não estejam, de forma alguma, associados a atividades criminosas ou que promovam mensagens de ódio e desrespeito contra quaisquer grupos ou instituições".

Ontem, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu uma nota em que também repudiou o uso da imagem da PM em uma ala da escola. Segundo a associação, o desfile "tratou com escárnio a figura de agentes da lei".

Cultura hip hop

Com o enredo Capítulo 4, versículo 3 — Da rua e do povo, o Hip Hop: um manifesto paulistano, a Vai-Vai contou com uma ala de pessoas fantasiadas de policiais do Batalhão de Choque. A fantasia Sobrevivendo no inferno tinha chifres e asas vermelhas como metáfora de uma figura demoníaca.

Em nota, o Sindpesp alega que a escola de samba "demonizou" a polícia e levou uma mensagem "carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei".

"Ao adotar tal enredo, a escola de samba, em nome do que chama de 'arte' e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias", diz o texto. A nota pede ainda que a Vai-Vai se retrate pelo ocorrido.

A Vai-Vai, em resposta, ressaltou que o enredo faz homenagem à cultura do hip hop e manifestações artísticas da periferia de São Paulo e que um dos recortes da história retratados é o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais MCs. De acordo com a escola de samba, a ala "fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação".

"É de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundos, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado para a época. O que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile", respondeu a diretoria da agremiação, em nota.

O deputado federal e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (Psol-SP) também desfilou pela escola e caracterizou como "histórico" o tema em homenagem ao rap nacional. Outro político que também participou do desfile foi o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Pelas redes sociais, ele relembrou que seu avô paterno, Lorito, foi um dos fundadores da Vai-Vai. "É a Escola de Samba que faz parte da história da minha família e que é uma das mais vigorosas manifestações da cultura negra da cidade de São Paulo." A Vai-Vai é a maior campeã do carnaval paulistano, com 14 títulos, mas, no desfile deste ano, não conseguiu conquistar os jurados, que consagraram a Mocidade Alegre com o bicampeonato. A escola terminou em um modesto 8º lugar, e ficou fora do desfile das campeãs.

 

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