O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reuniram-se, ontem, fora da agenda oficial, para aliviar a tensão entre os dois Poderes. O convite para o café da manhã, no Palácio da Alvorada, partiu do próprio presidente Lula. A conversa, a sós, durou cerca de uma hora. A dura fala de Lira no discurso que marcou o início do ano Legislativo, na última segunda-feira, motivou a conversa. O parlamentar denunciou descumprimento de acordos, especialmente, os que envolvem a liberação de emendas. O presidente, por sua vez, quis resolver o imbróglio antes da tramitação de matérias importantes no Congresso — e antes do carnaval, já que ambos estão fora de Brasília no feriado.
Articuladores do governo informaram que o encontro foi "muito positivo" e negaram qualquer tensão entre o Planalto e o Congresso Nacional. Interlocutores de Arthur Lira ouvidos pelo Correio, por sua vez, veem uma trégua após a iniciativa de Lula.
- Lula orienta ministros a protegerem Padilha e não deixá-lo isolado
- Lula: Lira é nosso adversário, mas preciso dele para votar projetos
Desde o fim do ano passado, o presidente da Câmara critica a demora na liberação de emendas parlamentares por parte dos ministérios. O estresse aumentou após Lula vetar cerca de R$ 5,6 bilhões em emendas ao Orçamento de 2024. Em ano eleitoral, os congressistas contam com o dinheiro para movimentar suas bases.
O alvo
O principal alvo das reclamações do deputado alagoano é o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, apontado como responsável pelo atraso na liberação dos recursos. Nos bastidores, deputados do Centrão — e o próprio presidente da Câmara - chegaram a pedir a demissão do ministro. Arthur Lira deixou expressa a sua insatisfação ao não comparecer ao ato que marcou um ano dos ataques de 8 de janeiro, à abertura dos trabalhos do Judiciário, no Supremo Tribunal Federal (STF), tampouco à posse do novo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski.
O climão após o discurso de Lira também levou ao cancelamento de uma reunião marcada entre Padilha, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e líderes do Parlamento, na terça-feira.
No café da manhã de ontem, o deputado destacou que, no ano passado, agiu em prol de pautas governistas, como a Reforma Tributária e, antes disso, a PEC da Transição. Também expôs suas queixas a Lula que, por sua vez, comprometeu-se a falar diretamente com Lira com mais frequência. O chefe do Executivo sugeriu o nome do ministro da Casa Civil, Rui Costa, como interlocutor alternativo enquanto durar a rusga com Padilha. Questionado pelo mandatário sobre seu ataque ao governo, na segunda-feira, Lira justificou dizendo que representa o Parlamento, cuja maioria é conservadora.
Lula recusa-se a demitir Padilha e ceder aos caprichos do Centrão, e entende que as reclamações de Lira não são compartilhadas no Congresso por quem está fora do chamado Centrão, que o presidente da Câmara comanda. Ele orientou, inclusive, que os demais ministros protejam o colega e o defendam publicamente. O presidente admite, no entanto, que os acordos feitos tanto por Padilha quanto pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, devem ser cumpridos. Apesar das sinalizações de trégua de ambas as partes, nada de concreto foi anunciado.