O presidente Luiz Inácio Lula da Silva transformou um evento inicialmente hostil para o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em um momento de descontração e de afagos a um dos principais aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). A cerimônia que uniu os dois gestores foi a comemoração dos 132 anos do Porto de Santos. O ato marcou também a assinatura de um termo de cooperação para as obras do túnel submerso entre Santos e Guarujá.
Tarcísio foi vaiado pelo público tanto ao chegar quanto ao discursar. Lula, porém, saiu em defesa do governador. Pregou respeito às diferenças e classificou o evento como um "ato civilizatório".
"Esse ato aqui, mais do que o anúncio, significa que precisamos restaurar este país à normalidade, e a normalidade é a gente respeitar o direito à diferença", enfatizou Lula.
Ele assegurou que Tarcísio "terá da Presidência tudo aquilo que for necessário". "A democracia é o respeito à diversidade, às diferenças, é a gente aprender a conviver com quem a gente não gosta, a gente respeita o direito até da pessoa não gostar da gente", frisou ele, e se dirigiu ao gestor paulista: "Governador Tarcísio, eu governei com o Alckmin, com o Serra, e nunca, em nenhum momento, tratei o estado de São Paulo diferente porque ele não pertencia ao meu partido. Eu quero te dizer, Tarcísio, que você terá da Presidência tudo aquilo que for necessário, porque estou beneficiando o estado mais importante da Federação. São Paulo merece respeito, e o governador merece ser tratado com muito respeito".
Lula também relembrou a passagem do gestor por governos petistas. "Se vocês não sabem, o Tarcísio trabalhou fazendo gasoduto em Manaus quando eu era o presidente. Encontrei com Tarcísio no meio da Amazônia quando ele estava trabalhando no gasoduto, quando ele trabalhou (no Dnit), com a Dilma Rousseff", relatou. "Depois, ele foi trabalhar com o Bolsonaro, paciência, é uma opção dele. O que eu vou lamentar?" Enquanto o presidente falava, um homem na plateia gritou: "Volta para o PT, Tarcísio". Meio sem jeito, o governador caiu na gargalhada.
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Em outro afago ao aliado de Bolsonaro, Lula lembrou que, antes, ele e o vice Geraldo Alckmin "brigavam", mas que agora estão "casadinhos".
O chefe do Executivo mencionou o fato de seu partido ter "perdido as eleições" para comandar o estado, mas que respeitou o resultado da disputa. "Disputamos com Tarcísio e perdemos as eleições. Não dá para dar um golpe em São Paulo, invadir um prédio. É voltar para casa e se preparar para disputar outra vez. E respeitar o direito do exercício da função de quem ganhou as eleições, senão a democracia fica capenga", defendeu, numa menção indireta aos atos golpistas do 8 de janeiro, quando extremistas, insatisfeitos com a derrota de Bolsonaro, depredaram as sedes dos Três Poderes.
O petista também comentou sobre a parceria entre o governo federal e a gestão paulista. "É assim que a gente tem que governar este país. Um presidente da República não pode ter inimigo, não pode gostar de um estado e não gostar de outro, não pode gostar de uma cidade e não gostar de outra."
Eleições
Numa alusão ao fato de Tarcísio ser um dos cotados para disputar a Presidência da República em 2026, já que Bolsnaro está inelegível, Lula destacou: "Vou me preparar para derrotar você nas próximas eleições". E acrescentou: "É importante você ter claro, Tarcísio, da minha parte, não faltará um minuto de respeito ao papel que você exerce em São Paulo".
Já Tarcísio, que esteve em Brasília no último dia 30 para acertar a parceria em relação às obras, agradeceu a parceria. "Quando a gente soma todo o investimento do túnel, na perimetral e nas casas, a gente passa fácil dos R$ 8 bilhões, presidente Lula. E nós vamos fazer isso juntos. Temos de fazer a diferença na vida do cidadão, vamos deixar um legado trabalhando juntos. Muito obrigado pela parceria, presidente Lula", afirmou.
O governo anunciou aporte de R$ 5,8 bilhões para o empreendimento, numa articulação entre União, estado e setor privado.
"Inveja danada"
Por meio das redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) comentou o encontro entre Lula e Tarcísio. O parlamentar disse que o petista teria "inveja danada" de o gestor paulista ser aliado de Bolsonaro (PL).
Flávio ainda postou uma foto ao lado do governador. "Elogiar ministros de Bolsonaro é fácil, difícil é elogiar ministros de Lula. Triste era quando Jair Bolsonaro era presidente, ia a um estado governado pelo PT e tiravam até a PM de sua segurança. Uma irresponsabilidade. Lula deve ter uma inveja danada de o Tarcísio ser Bolsonaro", escreveu.
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