O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está em Georgetown, capital da Guiana, para onde viajou nesta quarta-feira, e deve se reunir com chefe de governo do país vizinho, Irfaan Ali, para tratar da crise entre Guiana e Venezuela pelo território de Essequibo, disputado pelos dois países. Lula foi convidado especial no encerramento da 46ª Cúpula de Chefes de Governo da Comunidade do Caribe (Caricom).
A viagem de Lula é ambiciosa do ponto de vista da nossa política externa, porque o Brasil precisa demonstrar capacidade de liderança e de mediação de conflitos no subcontinente. Ainda mais depois dos ataques que sofreu do presidente da Argentina, Javier Milei, por causa das suas críticas ao primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, que Lula acusa de promover um genocídio em Gaza. Nesta quarta-feira, o líder brasileiro esteve com o presidente do Suriname, Chan Santokhi, e com a primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley.
A propósito, nesta quinta-feira mesmo, Lula viajará a São Vicente e Granadinas, pequeno país insolar, onde participará, em 1º de março, da abertura da 8ª Cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), que será realizada em Kingstown, a capital. O Brasil é um dos fundadores do organismo, mas havia se afastado durante o governo Bolsonaro. No encontro, Lula deve se reunir com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Lula busca maior aproximação com os países caribenhos, sobretudo os que fazem fronteira com o Brasil. O Caricom, criado em 1973, com sede em Georgetown, busca promover a integração econômica, o desenvolvimento social, a coordenação da política externa e a cooperação em segurança entre seus 15 países: Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize, Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago.
O Brasil tem um projeto ambicioso de integração com os países da fronteira norte, a cargo da ministra do Planejamento, Simone Tebet. As Rotas da Integração Sul-Americana são um plano de infraestrutura de transportes (de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e hidrovias), que conectarão 12 países da América do Sul com 11 estados brasileiros: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina.
A Rota 1 ligará Amapá, Roraima, Amazonas e Pará a Guiana, Guiana Francesa, Suriname e Venezuela. O Porto de Santana, no Amapá, seria o eixo de ligação com as Guianas, acessível aos navios que chegam da Europa. Seria também uma porta de entrada do Brasil ao Caribe e ao Canal do Panamá.
Itu, mas sem exageros
Enquanto Lula refaz seus laços com os governos da fronteira norte e caribenhos, o ex-presidente Jair Bolsonaro mergulha de cabeça nas eleições municipais. Não se trata de dar uma de avestruz em relação ao inquérito de 8 de janeiro, mas cuidar de seu espólio eleitoral. Nesta sexta-feira, estará em Itu, no interior paulista, onde almoçará com o deputado estadual Rodrigo Moraes (PL), pré-candidato a prefeito local, na companhia de 45 aliados. Depois, participará do lançamento da pré-candidatura, mas o evento será fechado e somente os convidados saberão o local, o que é muito improvável.
Em Itu, Jair Bolsonaro foi o candidato a presidente mais votado nas eleições presidenciais de 2022, tendo 60.031 votos no segundo turno (o que corresponde a 64,10% dos votos válidos). Lula obteve 33.624. Itu é conhecida como a "Cidade dos Exageros", graças ao humorista Francisco Flaviano de Almeida, que interpretava o caipira "Simplício" num programa de televisão muito popular da década de 1960. Ituano, Almeida contava histórias muito infladas sobre a cidade.
O programa resgatou a fama de Itu, considerada o berço da República Brasileira, por ter sediado a primeira Convenção Republicana do Brasil, em 1873. A população assumiu os exageros e passou a produzir objetos gigantes, como orelhões e semáforos. Em tupi-guarani, Itu significa cachoeira, mas virou quase sinônimo de coisa grande. É a terceira cidade turística de São Paulo, com muitas atrações, entre as quais um passeio de trem turístico, de uma hora, no qual se faz uma viagem no tempo, até Salto.
Não se deve subestimar a ida de Bolsonaro a Itu. É sua primeira incursão direta na disputa das eleições municipais no interior de São Paulo. Apesar dos méritos próprios, o governador Tarcísio de Freitas (PR) foi eleito na aba do chapéu de Bolsonaro. Já inelegível e investigado por suspeita de envolvimento numa tentativa de golpe de Estado, que teria culminado nos atos de 8 de janeiro de 2023, no domingo passado, o ex-presidente da República deu uma inequívoca demonstração do seu poder de mobilização na capital, com o ato na Avenida Paulista.
Apesar de cauteloso com as palavras, porque teme uma condenação pelo Supremo Tribunal Federal (STF), Bolsonaro decidiu cobrar fidelidade dos seus aliados e participar intensamente das articulações e mobilizações para as eleições municipais. A disposição de ir a Itu mostra bem isso. Não foi convocada uma grande manifestação de rua, porém, aonde vai, Bolsonaro ainda arrasta seus seguidores de camisa amarela.
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