São Paulo

Bancada da bala mira a escola de samba Vai-Vai

Indignados com a fantasia de uma ala que critica a tropa de choque da PM, deputados da Frente Parlamentar de Segurança Pública pedem o corte de verbas para a escola com maior número de títulos do carnaval paulistano

A fantasia da discórdia: ala dos PMs
A fantasia da discórdia: ala dos PMs "diabólicos" faz alusão à violência policial contra o movimento hip hop - (crédito: Nelson Almeida/AFP)

Deputados federais da Frente Parlamentar de Segurança Pública da Câmara, conhecida como "bancada da bala", pediram punição da escola de samba paulistana Vai-Vai. Em ofício enviado ao governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e ao prefeito da capital paulista, Ricardo Nunes (MDB), o deputado federal Capitão Augusto (PL-SP) e o deputado estadual Dani Alonso (PL-SP) querem que a agremiação seja impedida de receber recursos públicos tanto da prefeitura como do estado.

"Foi com grande consternação que presenciamos a escola de samba em questão retratar, de forma deliberadamente ofensiva, os policiais militares e outros agentes de segurança como figuras demoníacas em uma de suas alegorias. Tal atitude não somente desrespeita a honra e a dignidade dos profissionais que dedicam suas vidas à proteção da sociedade, mas, também, contribui para a propagação de uma imagem negativa das forças de segurança, em um momento em que se faz mais necessário do que nunca, o reconhecimento e o apoio ao seu trabalho", alegaram no documento, assinado na segunda-feira de carnaval.

"Especificamente, proponho que a escola de samba Vai-Vai seja proibida de receber qualquer forma de recurso público no próximo ano fiscal, como forma de sanção pela conduta irresponsável e ofensiva demonstrada. Tal medida não apenas servirá de punição apropriada, mas, também, como um claro sinal de que ofensas contra as instituições e profissionais de segurança não serão toleradas em nosso estado", acrescentou o pedido, emendando que "sejam reforçadas as diretrizes e critérios para a concessão de apoio financeiro e patrocínio a entidades e eventos culturais, assegurando que estes não estejam, de forma alguma, associados a atividades criminosas ou que promovam mensagens de ódio e desrespeito contra quaisquer grupos ou instituições".

Ontem, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) emitiu uma nota em que também repudiou o uso da imagem da PM em uma ala da escola. Segundo a associação, o desfile "tratou com escárnio a figura de agentes da lei".

Cultura hip hop

Com o enredo Capítulo 4, versículo 3 — Da rua e do povo, o Hip Hop: um manifesto paulistano, a Vai-Vai contou com uma ala de pessoas fantasiadas de policiais do Batalhão de Choque. A fantasia Sobrevivendo no inferno tinha chifres e asas vermelhas como metáfora de uma figura demoníaca.

Em nota, o Sindpesp alega que a escola de samba "demonizou" a polícia e levou uma mensagem "carregada de total inversão de valores e que chega a humilhar os agentes da lei".

"Ao adotar tal enredo, a escola de samba, em nome do que chama de 'arte' e de liberdade de expressão, afronta as forças de segurança pública, desrespeita e trata, de forma vil e covarde, profissionais abnegados que se dedicam, dia e noite, à proteção da sociedade e ao combate ao crime, muitas vezes, sob condições precárias e adversas, ao custo de suas próprias vidas e famílias", diz o texto. A nota pede ainda que a Vai-Vai se retrate pelo ocorrido.

A Vai-Vai, em resposta, ressaltou que o enredo faz homenagem à cultura do hip hop e manifestações artísticas da periferia de São Paulo e que um dos recortes da história retratados é o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno (1997), dos Racionais MCs. De acordo com a escola de samba, a ala "fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais Mcs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação".

"É de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundos, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado para a época. O que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile", respondeu a diretoria da agremiação, em nota.

O deputado federal e pré-candidato à prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (Psol-SP) também desfilou pela escola e caracterizou como "histórico" o tema em homenagem ao rap nacional. Outro político que também participou do desfile foi o ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Pelas redes sociais, ele relembrou que seu avô paterno, Lorito, foi um dos fundadores da Vai-Vai. "É a Escola de Samba que faz parte da história da minha família e que é uma das mais vigorosas manifestações da cultura negra da cidade de São Paulo." A Vai-Vai é a maior campeã do carnaval paulistano, com 14 títulos, mas, no desfile deste ano, não conseguiu conquistar os jurados, que consagraram a Mocidade Alegre com o bicampeonato. A escola terminou em um modesto 8º lugar, e ficou fora do desfile das campeãs.

 

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postado em 14/02/2024 03:55
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