No dia seguinte à reunião de Jair Bolsonaro com seu ministério, na qual arquitetou um golpe de Estado e pregou contra o sistema eleitoral, no Palácio do Planalto, em 5 de outubro de 2022, o ministro da Defesa à época, Paulo Sérgio Nogueira, e os comandantes militares das três forças, compareceram a uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores da Câmara, como mostrou o Correio.
Na audiência pública no Congresso, esses militares de alta patente atacaram as urnas eletrônicas, a compararam a cartão de crédito clonado e disseram que o sistema não estava imune a sabotagem.
Presente à reunião e indignada com a postura dos oficiais contra as urnas, a então deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) fez um duro discurso contra a manifestação, em especial, do general Paulo Sérgio. Depois de ouvir o general argumentar que não há programa imune à invasão e que as Forças Armadas atuariam como fiscalizadora das eleições, a parlamentar do PCdoB, que tem uma histórica proximidade com os militares, rebateu com veemência o ministro da Defesa de Bolsonaro.
Numa fala de 10 minutos, Perpétua Almeida afirmou não ser papel dos militares se envolverem nas eleições, muito menos em debate sobre eficiência ou não das urnas eletrônicas, e disse que Bolsonaro não poderia usar as Forças Armadas daquela maneira, como se fossem dele. "As minhas Forças Armadas", declaração do ex-presidente e repetida pela deputada.
"Essa briga com o TSE não é uma batalha das Forças Armadas. O presidente fez essa escolha, as Forças Armadas não precisam fazê-la, porque o poder civil não pode aceitar isso. Não cabe às Forças Armadas brasileiras ficar debatendo urnas eletrônicas. Há instituições para isso. O TSE cuida do processo eleitoral, o Parlamento cuida da legislação eleitoral, as Forças Armadas, a Polícia Federal e outras instituições dão suporte ao TSE, no momento em que forem chamadas", discursou Perpétua Almeida, que foi deputada por quatro mandatos e já presidiu a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional.
"Eu tenho um apreço enorme pelas Forças Armadas e sempre as defendi nesta Casa todas as vezes em que tive a oportunidade, mas também nunca me eximi de dizer o que eu acho que precisa ser dito porque compreendo, pela Constituição, que o poder é civil. E acredito mesmo que não existe país no mundo que tenha crescido e seja forte hoje sem ter Forças Armadas fortes. Por isso, sempre briguei aqui pelo orçamento das Forças Armadas, sempre fiz essa defesa", disse.
Procurado pelo Correio esta semana, a ex-deputada contou que não tinha conhecimento que, na véspera da audiência pública na qual criticou o envolvimento dos militares com a Justiça Eleitoral, tinha ocorrido uma reunião no Planalto comandada por Bolsonaro e que atentava contra a democracia.
"Se soubesse, claro, teria dito muito mais. Na verdade, ninguém tinha conhecimento até esta semana, com as investigações da Polícia Federal", disse Perpétua Almeida, que, no governo de Dilma Rousseff, ocupou a Secretaria dos Produtos de Defesa no Ministério da Defesa.
Na audiência, Perpétua disse ao general Paulo Sérgio que não está na Constituição a responsabilidade das Forças Armadas com relação a urnas eletrônicas e que essa função não consta nos pilares dos militares, e citou o Livro Branco de Defesa Nacional, a Estratégia Nacional de Defesa e a Política Nacional de Defesa.
"Não estou gostando nada do que eu estou assistindo. Deixem o presidente Bolsonaro comprar a briga dele com quem quiser. Ele não pode obrigar, não pode dar ordens e, se der essas ordens, elas não podem ser obedecidas. Ordens erradas, que estão fora da Constituição, não podem ser obedecidas. Essa não é a batalha das Forças Armadas Brasileiras."
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