Na reunião de 5 de julho de 2022, no Palácio do Planalto, em que traçou ações para desqualificar a Justiça Eleitoral, o então presidente Jair Bolsonaro deu uma ordem de silêncio para o, à época, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o general Augusto Heleno. A determinação ocorreu quando o militar falava do risco de vazamento de uma iniciativa que estava anunciando, de infiltrar integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) nos "dois lados" na campanha eleitoral. A Abin era subordinada ao GSI — no governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foi transferida para a Casa Civil.
"Primeiro, o problema da inteligência. Eu já conversei ontem com o Victor (Carneiro), novo diretor da Abin. Nós vamos montar um esquema para acompanhar o que os dois lados vão fazer. O problema todo disso é se vazar qualquer coisa...muita gente se conhece nesse meio. Se houver qualquer acusação de infiltração desses elementos da Abin, em qualquer um dos lados...", dizia Heleno, quando Bolsonaro o interrompeu e mandou o militar parar de falar. "General, eu peço que o senhor não fale, por favor. Peço que o senhor não prossiga mais sua observação aqui. Peço que não prossiga. Se a gente começa a falar 'não vazar', esquece. Pode vazar. Então, a gente conversa em particular, na nossa sala lá, sobre esse assunto", enfatizou, encerrando o assunto.
Heleno foi alvo de busca e apreensão da Operação Tempus Veritatis, da Polícia Federal, que o incluiu no Núcleo de inteligência paralela. Esse era o grupo que coletava dados e informações para ajudar Bolsonaro a tomar decisões "na consumação do golpe de Estado". Entre as ações dessa frente de atuação, estava o de monitorar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
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Virada de mesa
O general falou da necessidade dos órgãos do governo atuarem para assegurar a reeleição de Bolsonaro e diz que não teria VAR. Ao microfone na reuniu, ele afirma: "Então, o que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições".
Para a PF, o general foi categórico ao falar, na sequência, sobre ter que agir contra determinadas instituições e pessoas. "Eu acho que as coisas têm que ser feitas antes das eleições. E vai chegar a um ponto que nós não vamos poder mais falar. Nós vamos ter que agir. Agir contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas. Isso para mim é muito claro."
No relatório da PF, endossado pela Procuradoria-Geral da República e por Moraes, a reunião do dia 5 serviu para disseminar entre os auxiliares mais próximos de Bolsonaro a desinformação contra a Justiça Eleitoral, "apontando o argumento de que as Forças Armadas e os órgãos de inteligência do governo federal detinham ciência das fraudes e ratificavam a narrativa mentirosa apresentada pelo então presidente da República Jair Bolsonaro." Procurado pela reportagem para comentar o assunto, Heleno não se manifestou.
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