A expectativa é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncie, ainda nesta terça-feira (30/1), uma dança nas cadeiras dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo fontes reservadas do Palácio do Planalto, o petista já teria decidido por exonerar o diretor-adjunto da agência, Alessandro Moretti.
Delegado da Polícia Federal, Moretti, que ocupa o segundo cargo mais importante da Abin, já comandou a inteligência da PF e atuou como “braço direito” de Anderson Torres durante o governo de Jair Bolsonaro. Apesar da decisão de demissão do número dois, o chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, deve ser mantido no cargo, ao menos por enquanto, revelam fontes ouvidas pela reportagem.
Lula disse hoje confiar no diretor-geral que indicou ao cargo. Mesmo assim, demonstrou insegurança quanto à equipe atual da Abin. "A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi o meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança e por isso eu o chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele. Dentro dessa equipe tem um cidadão [Moretti], que é o que está sendo acusado, que mantinha relações com o Ramagem", contou o presidente em entrevista à CBN Recife.
A indicação de Moretti, ainda nos primeiros meses do governo Lula, foi muito criticada por aliados, que identificavam o delegado como um “bolsonarista raíz”, o que dificultou a aprovação de Corrêa na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal.
O presidente do colegiado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), adiou a data para marcar a sabatina da direção da agência, atraso entendido como resistência do governista ao nome de Moretti para o órgão. Com a demora na aprovação da Abin, também atrasou a fila de aprovação de indicados para outras instituições que precisavam de aval do Senado, forçando, em maio de 2023, a aprovação dos nomes da Abin.
“Se dependesse de mim, exonerava a todos”
Apesar do indicativo de que Lula deve, nas próximas horas, demitir parte da diretoria da agência, para o petista Reginaldo Lopes (PT-MG), as investigações deixam claro que o ex-presidente Bolsonaro tentou corromper as instituições do Estado até mesmo durante a gestão de Lula.
“Antes tínhamos desconfianças, mas infelizmente, agora, temos provas que, mesmo sobre o governo do presidente Lula, a família Bolsonaro tenta buscar privilégios dentro das instituições”, disse o parlamentar. “Se dependesse de mim, eu exonerava a todos (da atual direção da Abin), mas essa decisão é do presidente”, emendou ao Correio Reginaldo.
“O que está acontecendo agora é a confirmação daquilo que a sociedade já desconfiava. É muito bom, nós precisamos dar transparência e luz a esse episódio sombrio do governo Bolsonaro.”
Para o deputado Pedro Uczai (PT-SC), a operação desta segunda-feira (29) na casa de Carlos Bolsonaro trouxe à luz provas que apontam para a necessidade de se rediscutir o modelo e, até mesmo, a existência de um órgão de inteligência no país.
“Ficou claro que, com o escritório do ódio, com inteligência paralela, com espionagem de opositores, não existia nessa época um Estado Democrático de Direito. É grave, é crime, e precisa mudar. Temos que rever esse instrumento, ou precisamos de uma nova Abin, ou ela nem precisa existir”, enfatizou o parlamentar.
Colaborou Victor Correia
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