Funcionários da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) tentaram dificultar que a Polícia Federal (PF) cumprisse os mandados de busca e apreensão, na sede da agência, por conta da Operação Vigilância Aproximada. Segundo agentes que participaram da incursão, foi preciso que o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF) — que autorizou a ação dos federais — emitisse uma nova ordem ameaçando de prisão quem tentasse atrapalhar a coleta do material.
A informação da tentativa de restringir a ação da PF foi divulgada, inicialmente, pelo Blog da Andreia Sadi, no site G1. A ida dos federais à Abin foi uma das vertentes da operação, desfechada na quinta-feira, contra o ex-diretor da agência e hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ). O parlamentar não apenas seria o responsável por montar um esquema de espionagem ilegal, utilizando o sistema First Mile, como ainda receberia informações sensíveis de dentro da instituição — algo que deixou o atual diretor, Luiz Fernando Corrêa, e seu braço-direito, Alessandro Moretti, em situação insustentável, podendo ser demitidos nos próximos dias.
Os agentes foram à Abin coletar dados de que o esquema de espionagem montado ilegalmente por Ramagem tinha por objetivo bisbilhotar autoridades e pessoas públicas consideradas inimigas de Jair Bolsonaro. O esquema também se proporia a passar ao ex-presidente informações privilegiadas de operações que envolvessem seus filhos.
A partir da chegada da PF, funcionários da Abin resistiram a permitir o acesso a dados e informações considerados importantes para confirmar a criação da "Abin paralela" por Ramagem. Conforme justificaram para os agentes, seria necessário que no mandado de busca expedido por Moraes se especificasse qual seria o objetivo e o alcance da medida.
A partir da nova ordem do ministro é que a PF obteve o que fora buscar. Nela, Moraes, inclusive, frisa que quem tentasse atrapalhar a coleta do material, seria preso em flagrante — além de detalhar a extensão das buscas.
Retirada de sigilo
Em paralelo ao andamento das investigações, agentes da PF solicitaram a Moraes que seja retirado o sigilo do relatório sobre o esquema de espionagem ilegal montado por Ramagem — pretendem que os nomes daqueles que foram monitorados ilegalmente venham à tona. Fontes ouvidas pelo Correio asseguram que o pedido está sendo avaliado pelo magistrado.
De acordo com fontes ligadas à investigação, aproximadamente 1,8 mil pessoas foram espionadas. Além do First Mile, a bisbilhotagem utilizou outros programas que possibilitavam o acesso a dados mais completos dos celulares das vítimas — como mensagens de texto e tráfego de informações em redes sociais. Um deles seria o aplicativo LTESniffer, que intercepta tráfego em redes 4G.
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