Os ministros das Relações Exteriores da Venezuela, Yvan Gil, e da Guiana, Hugh Hilton Todd, devem se encontrar, nesta quinta-feira (25/1) de manhã, em Brasília, para mais uma rodada de negociações sobre a disputa do território de Essequibo pelos dois países. Os anfitriões do encontro, no Itamaraty, serão o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, e o assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para assuntos internacionais, Celso Amorim.
A reunião dos chanceleres foi acordada, em dezembro do ano passado, pelos presidentes dos dois países divergentes, em reunião em São Vicente e Granadinas, país insular do Caribe que ocupa a presidência pro tempore da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).
Na ocasião, Venezuela e Guiana formalizaram a Celso Amorim o convite para que o Brasil atue como facilitador das negociações. A intenção da Venezuela de tomar para si o Essequibo, que corresponde a cerca de dois terços do território da Guiana, acirrou a tensão na fronteira entre os dois países e obrigou o Brasil a mobilizar reforço das Forças Armadas na sua própria área de fronteira com os dois vizinhos.
Na reunião de dezembro entre os presidentes da Venezuela, Nicolás Maduro, e da Guiana, Irfaan Ali, em São Vicente e Granadinas, ficou acordado que o diálogo entre os países seria permanente e periódico, e que a próxima rodada de negociações ocorreria no Brasil, em até 90 dias. Não foi preciso esperar tanto. Nesta terça-feira (23/1), as duas chancelarias confirmaram o encontro, que também contará com representantes de São Vicente e Granadinas e de Dominica, que preside a Comunidade do Caribe (Caricom) — interlocutores principais no processo de negociação.
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Não há, ainda, propostas para serem apresentadas, segundo apurou o Correio. O momento, para os observadores brasileiros, ainda é de ouvir as duas partes e trabalhar para que as soluções sejam dadas pela diplomacia, sem ameaças ou bravatas. O Brasil é visto pelos dois países como um facilitador do diálogo e, por isso, deve promover, também em Brasília, o segundo encontro presencial de Maduro com Ali para tratar da questão do Essequibo. Essa reunião de alto nível ainda não tem data para ocorrer.
Petróleo amazônico
A disputa histórica entre os dois países tomou proporções preocupantes no fim do ano passado, quando Maduro iniciou uma campanha pública pela anexação do território de Essequibo. No primeiro dia de dezembro, a Corte Internacional de Justiça, em Haia (Holanda), decidiu que a Venezuela não pode anexar o Essequibo enquanto a questão não for resolvida. Foi um recado direto a Maduro, que estava em plena campanha pelo "sim" à anexação, no plebiscito que havia sido convocado para o dia 3 — a tese do governo venezuelano foi amplamente vitoriosa (95% dos votos). Maduro, porém, não reconhece a competência da Corte das Nações Unidas nesse julgamento.
Paralelamente, os dois países anunciaram movimentação de tropas militares, como um exercício conjunto das forças aéreas da Guiana e dos Estados Unidos. Seis dias depois, o Conselho de Segurança das Nações Unidas se reuniu em caráter de urgência, em Nova York, a pedido do governo Ali, para avaliar a crise. Menos de duas semanas depois, os dois presidentes se encontraram no Caribe e aliviaram a tensão.
A disputa entre Venezuela e Guiana pelo Essequibo tem mais de 100 anos. Mas essa região amazônica só entrou no radar dos governantes em 2015, quando a petrolífera Exxon Mobil anunciou a descoberta de grandes volumes de petróleo no subsolo do mar do Caribe, que já estão sendo explorados pela Guiana. Maduro, que também quer um naco desse petróleo, disse, após a vitória no plebiscito, que "a Guiana e a Exxon terão de se sentar conosco, cara a cara, o mais cedo possível".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preocupado com a escalada da crise, determinou reforço militar na tríplice fronteira norte (Brasil, Venezuela e Guiana), em Roraima, e mobilizou a diplomacia para coordenar uma posição conjunta dos países da América do Sul por uma saída negociada e contra qualquer tipo de violação territorial.
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