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Aliança PT-PSol: os fatores que uniram os dois partidos

O impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a chegada de Bolsonaro ao poder levaram as legendas a se alinharem

A tendência de ratificação da chapa de Guilherme Boulos com Marta Suplicy vai confirmar também o momento de maior aproximação entre o PSol e o PT, relação que nem sempre foi de troca de simpatias. Próximo de completar 20 anos de fundação, em junho, o PSol é fruto de uma dissidência do PT. Foi formado nesse seu primórdio por petistas expulsos da legenda, em 2003, e de outros parlamentares que deixaram o partido de Luiz Inácio Lula da Silva por conta própria, em 2005, no estouro do mensalão. 

O momento atual registra uma inédita ligação entre os partidos. Dois indicadores: pela primeira vez, em 2022, o PSol deixou de lançar candidato próprio à Presidência da República — teve quatro postulantes entre 2006 e 2018 — para apoiar Lula e, também novidade, o partido ocupa com cargos os escalões do governo federal. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, é uma deputada federal eleita pelo PSol, em São Paulo. 

A presidente nacional do partido, Paula Coradi, tem esse entendimento, de que a ligação entre as duas legendas nunca foi de tanta proximidade. A dirigente atribui essa relação atual a dois fatores, que são o impeachment da ex-presidente Dilma Roussef, em 2016, e o "advento" Jair Bolsonaro. 

"No processo do impeachment, vimos uma movimentação da direita para tirar a Dilma do poder, por um motivo, para nós, que se caracterizou como um golpe. E o Michel Temer (substituto da petista) impôs uma agenda diferente da vitoriosa na eleição", destacou, ao Correio. "A partir daí, nos mobilizamos, e a ligação com o PT se tornou mais forte com a chegada do Bolsonaro ao poder."

Paula Coradi acrescentou: "A extrema direita se tornou nosso principal adversário político. Não lançamos candidato à Presidência para apoiar Lula, e, fato inédito, somos pela primeira vez base de algum governo. É preciso muita unidade para derrotar a ultradireita". 

Elogios

A dirigente participa, neste sábado, da reunião entre Boulos e Marta. Ela elogia a gestão da ex-petista quando prefeita da capital paulista, entre 2001 a 2005, e diz ser preciso juntar todas as forças para derrotar o bolsonarismo na cidade, representado, na opinião dela, por Ricardo Nunes, atual prefeito, que pertence ao MDB.

Coradi afirma que o PSol não vai interferir na escolha do PT para compor a chapa com Boulos. "Esse acordo foi bem costurado internamente e será cumprido integralmente. A escolha do PT será respeitada", disse. 

No seu oitavo mandato de deputado federal, Ivan Valente (PSol-SP) entende igualmente que os partidos estão mais unidos nos últimos anos, dado o avanço da extrema direita no país, que despontou com Bolsonaro.

"No geral, sim, é o momento de maior proximidade. Em especial a partir de 2020, por causa do enfrentamento contra a extrema direita bolsonarista, que facilitou alianças", frisou. "Mas não é generalizada. Veja o caso do Rio de Janeiro. Mas o PSol é base do governo Lula, mantendo sua autonomia e independência", sustentou ele, que é muito próximo de Lula.

O deputado esteve ao lado do hoje presidente, em cima do carro de som, quando Lula discursou antes de se entregar para ser preso pela Polícia Federal, em São Bernardo do Campo, em abril de 2018. 

O caso do Rio, de fato, aponta possível divergência entre os dois. O PSol não abre mão de ter candidato próprio e já escolheu até o nome do deputado federal Tarcísio Motta para concorrer contra a tentativa de reeleição de Eduardo Paes (PSD). Paula Coradi ressaltou que não há qualquer chance de o partido abrir mão dessa candidatura. "Não temos possibilidade de apoiar o Paes. Fica difícil para o PSol", comentou a presidente do partido. 

Nesta semana foi anunciado que a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, vai se filiar ao PT para ser vice na chapa de Paes. Anielle é irmã de Marielle Franco, vereadora do PSol assassinada no Rio, em março de 2018. 

No centro dessa situação, Tarcísio Motta enalteceu a aproximação entre PSol e PT. Ele disse que a relação se intensificou a partir do segundo turno da disputa presidencial de 2018, entre Bolsonaro e Fernando Haddad, do PT. 

"Enfrentar o bolsonarismo em todos os espaços é uma tarefa que aproxima os dois partidos. Em São Paulo, a conjuntura política aponta para a construção de uma frente político-partidária capaz de devolver à cidade uma perspectiva de superação das desigualdades e garantia de direitos que Erundina, Marta, Haddad representaram no passado. E Boulos e Marta certamente vão resgatar a partir do próximo ano", enfatizou Motta, citando os três ex-prefeitos desse espectro político. 

O deputado tem a expectativa de que essa aliança entre os dois partidos ocorra em várias outras localidades. 

"No Rio e Janeiro, estamos chamando a unidade com PT, PCdoB, PDT e PSB, justamente por acreditar na força desse projeto", afirmou.

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