INVESTIGAÇÃO

Após operação da PF, Lula deve mexer em cúpula da Abin nesta terça

Planalto sofre pressão de aliados para reformular agência de inteligência depois dos escândalos de uma "Abin paralela"

Segundo fontes reservadas do Planalto, o petista já teria decidido por exonerar o diretor-adjunto da agência, delegado Alessandro Moretti -  (crédito: Ricardo Stuckert / PR)
Segundo fontes reservadas do Planalto, o petista já teria decidido por exonerar o diretor-adjunto da agência, delegado Alessandro Moretti - (crédito: Ricardo Stuckert / PR)

A expectativa é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anuncie, ainda nesta terça-feira (30/1), uma dança nas cadeiras dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo fontes reservadas do Palácio do Planalto, o petista já teria decidido por exonerar o diretor-adjunto da agência, Alessandro Moretti.

Delegado da Polícia Federal, Moretti, que ocupa o segundo cargo mais importante da Abin, já comandou a inteligência da PF e atuou como “braço direito” de Anderson Torres durante o governo de Jair Bolsonaro. Apesar da decisão de demissão do número dois, o chefe da agência, Luiz Fernando Corrêa, deve ser mantido no cargo, ao menos por enquanto, revelam fontes ouvidas pela reportagem.

Lula disse hoje confiar no diretor-geral que indicou ao cargo. Mesmo assim, demonstrou insegurança quanto à equipe atual da Abin. "A gente nunca está seguro. O companheiro que eu indiquei para ser o diretor-geral da Abin é o companheiro que foi o meu diretor-geral da PF entre 2007 e 2010. É uma pessoa que eu tenho muita confiança e por isso eu o chamei, já que eu não conhecia ninguém dentro da Abin. E esse companheiro montou a equipe dele. Dentro dessa equipe tem um cidadão [Moretti], que é o que está sendo acusado, que mantinha relações com o Ramagem", contou o presidente em entrevista à CBN Recife.

A indicação de Moretti, ainda nos primeiros meses do governo Lula, foi muito criticada por aliados, que identificavam o delegado como um “bolsonarista raíz”, o que dificultou a aprovação de Corrêa na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado Federal.

O presidente do colegiado, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), adiou a data para marcar a sabatina da direção da agência, atraso entendido como resistência do governista ao nome de Moretti para o órgão. Com a demora na aprovação da Abin, também atrasou a fila de aprovação de indicados para outras instituições que precisavam de aval do Senado, forçando, em maio de 2023, a aprovação dos nomes da Abin.

“Se dependesse de mim, exonerava a todos”

 

Apesar do indicativo de que Lula deve, nas próximas horas, demitir parte da diretoria da agência, para o petista Reginaldo Lopes (PT-MG), as investigações deixam claro que o ex-presidente Bolsonaro tentou corromper as instituições do Estado até mesmo durante a gestão de Lula.

“Antes tínhamos desconfianças, mas infelizmente, agora, temos provas que, mesmo sobre o governo do presidente Lula, a família Bolsonaro tenta buscar privilégios dentro das instituições”, disse o parlamentar. “Se dependesse de mim, eu exonerava a todos (da atual direção da Abin), mas essa decisão é do presidente”, emendou ao Correio Reginaldo.

“O que está acontecendo agora é a confirmação daquilo que a sociedade já desconfiava. É muito bom, nós precisamos dar transparência e luz a esse episódio sombrio do governo Bolsonaro.”

Para o deputado Pedro Uczai (PT-SC), a operação desta segunda-feira (29) na casa de Carlos Bolsonaro trouxe à luz provas que apontam para a necessidade de se rediscutir o modelo e, até mesmo, a existência de um órgão de inteligência no país.

“Ficou claro que, com o escritório do ódio, com inteligência paralela, com espionagem de opositores, não existia nessa época um Estado Democrático de Direito. É grave, é crime, e precisa mudar. Temos que rever esse instrumento, ou precisamos de uma nova Abin, ou ela nem precisa existir”, enfatizou o parlamentar.

Colaborou Victor Correia

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postado em 30/01/2024 11:03 / atualizado em 30/01/2024 11:06
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