A cúpula da Agência Brasileira de Inteligência está por um fio e pode ser demitida, nos próximos dias, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo os agentes federais envolvidos na Operação Vigilância Aproximada, deflagrada na quinta-feira, o atual comando da Abin manteria contato com o ex-diretor da instituição, o hoje deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), e passaria informações sigilosas. O parlamentar é considerado o responsável pela montagem de um esquema ilegal de monitoramento de autoridades e figuras públicas consideradas inimigas do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Esse, porém, não é o primeiro desgaste sofrido pela atual cúpula da Abin — cujo diretor é o delegado federal aposentado Luiz Fernando Corrêa, que tem como diretor adjunto outro delegado da PF, Alessandro Moretti. Em outubro de 2023, a Operação Última Milha trouxe à tona o uso irregular do sistema First Mile — elaborado para o monitoramento de geolocalização de celulares.
Já ali, investigações apontaram indícios de que servidores da Abin usaram o software para monitorar jornalistas, advogados, políticos e até mesmo ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) nos três primeiros anos do governo Bolsonaro. À época, Rui Costa, ministro da Casa Civil — à qual a agência se reporta —, se reuniu com Moretti, no Palácio do Planalto, para ouvir explicações sobre a utilização irregular das ferramentas da Abin.
Apesar do mal-estar e da pressão para que fossem removidos, Corrêa e Moretti foram mantidos nos postos. Agora, com os resultados da Operação Vigilância Aproximada — um desdobramento da Última Milha —, a necessidade de mudança na agência voltou a ser debatida. Por enquanto, nos bastidores do Palácio do Planalto os comentários são de que Lula analisa e tem ouvido interlocutores sobre o episódio.
"Insustentável"
Na decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que retirou o sigilo sobre a participação de Ramagem na espionagem ilegal, Moretti teria afirmado, em uma reunião com investigados no STF, que o inquérito da PF teria "fundo político e iria passar". Por conta disso, o relatório dos agentes federais classifica como "insustentável" a permanência do atual comando da Abin.
A gestão de Ramagem à frente da Abin foi duramente criticada pela União dos Profissionais de Inteligência de Estado (Intelis), que congrega o corpo profissional da agência, e defende que a instituição seja dirigida por integrantes da própria carreira. "Se confirmados os ilícitos apurados, a problemática gestão da Abin por Alexandre Ramagem e seus assessores reforça a importância de a agência ser gerida por seu próprio corpo funcional, e não por atores exógenos politicamente condicionados, como no governo anterior", criticou a Intelis, acrescentando que "a Inteligência de Estado tem que ser preservada do debate político-partidário, e os profissionais de carreira precisam ser valorizados".
O diretor Corrêa é avaliado por setores do governo como um profissional sério e competente, mas que estaria falhando em limpar o corpo da Abin dos bolsonaristas. Em relação a Moretti a desconfiança é antiga, pois ele tinha estreita relação com o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres — uma das figuras-chave do inquérito sobre a tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. Mas, como condição para comandar a agência, Corrêa teria exigido Moretti como seu auxiliar direto.
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