Titular da Fazenda no governo de Dilma Rousseff, Guido Mantega não será indicado para assumir a presidência da Vale S.A, garantiu, ontem, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Especulações durante a semana diziam que o governo estaria fazendo gestões para que o economista substituísse o atual presidente, Eduardo Bartolomeo.
Em reação, Silveira buscou reduzir ruídos e disse que "uma indicação do governo para a Vale é um absurdo", descartando qualquer possibilidade de interferência na empresa, privatizada em 1997.
As especulações surgiram no momento em que o atual CEO da mineradora, Bartolomeo, precisa ser informado se o contrato dele, que vence em 31 de maio, será renovado. Pelo estatuto da Vale, o executivo deve ser comunicado, com quatro meses de antecedência, se terá ou não a renovação do mandato. Esse prazo termina na próxima quarta-feira, e a expectativa é que o Conselho de Administração da companhia, que elege o presidente da Vale, anuncie um nome até terça-feira.
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O governo vem dando sinais de que não gostaria da recondução do atual presidente, a quem atribui a demora na solução do pagamento de indenizações das vítimas do rompimento da barragem de Mariana, em Brumadinho (MG).
Os sinais da suposta pressão do governo para emplacar Mantega causaram reações no mercado e entre os acionistas. A cotação das ações da empresa negociadas em bolsa caiu na quinta-feira, mas, com o anúncio de que Mantega não será "indicado" pelo governo, os papéis se recuperaram e fecharam o pregão com alta de 1,67%. Mesmo com a recuperação de ontem, as ações da empresa acumularam, no último ano, perda de 9,97% — atribuída, em grande parte, à retração da economia chinesa.
A mineradora não conta mais com participação acionária do governo — que detém apenas o direito de veto em algumas decisões — nem do BNDES, que vendeu suas posições em 2022. Mas a empresa tem como maior acionista individual a Previ (fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil), com pouco mais de 8,7% do capital.
A possibilidade de a Previ ser usada para forçar uma indicação do Palácio do Planalto foi refutada pelo ministro Silveira. Ele lembra que o fundo de pensão tem apenas duas das 13 cadeiras no Conselho de Administração da empresa. Silveira também ressalvou que a Previ é controlada pelos funcionários do banco estatal, e não pelo governo.
"Lula é presidente pela terceira vez, todos conhecem bem o perfil do presidente, ele nunca se disporia a fazer uma interferência direta em uma empresa de capital aberto, listada em bolsa, uma corporation que tem governança e natureza jurídica própria", ressaltou o ministro. "O governo não tem que indicar um nome e muito menos interferir na governança da Vale do Rio do Doce", emendou.
Para Silveira, as informações que ganharam espaço na imprensa não passam de especulações. "Foi dito que eu teria ligado para alguns conselheiros, que eu estaria pressionando alguns conselheiros em relação ao nome do ministro Mantega. A posição do governo é a de que nós compreendemos que se trata de uma empresa de capital aberto, de natureza jurídica própria, o governo não é controlador, diferentemente da Petrobras", enfatizou o ministro.
Mercado reage bem
Antes de Alexandre Silveira negar a mobilização em favor de Mantega, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), defendeu, na quinta-feira, o nome do petista. "Pouquíssimos brasileiros são tão qualificados quanto Guido Mantega para compor o Conselho da Vale, uma empresa estratégica para o país", disse a petista, em uma rede social.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no mesmo dia, criticou a empresa pela demora no pagamento das indenizações referentes à tragédia de Brumadinho. "Faz cinco anos do crime que deixou Brumadinho debaixo de lama, tirando vidas e destruindo o meio ambiente. Cinco anos, e a Vale nada fez para reparar a destruição causada", escreveu.
Com os desmentidos do governo quanto à indicação do economista e a reação positiva nos preços dos papéis da empresa, a petista, ontem, criticou o movimento dos mercados. "A Vale foi condenada, ontem (quinta-feira), numa ação de R$ 43 bilhões pelo crime de Mariana. Qualquer empresa teria queda de ações na Bolsa depois de uma decisão como essa. Mas o que sai na mídia especializada é que a culpa é a possível indicação do ex-ministro Guido Mantega para a direção da empresa. Quanta manipulação", reclamou.
Brumadinho
Negando qualquer ingerência na administração da mineradora, o ministro Alexandre Silveira, que é de Minas Gerais, deixou claro que o governo está descontente com as medidas compensatórias da empresa em relação à tragédia de Mariana, que completou cinco anos na última quinta-feira.
"O Brasil é um país que respeita contratos, e eu disse em Davos (Suíça) que o presidente Lula só tratou comigo sobre a Vale do Rio Doce que nós devemos cobrar celeridade na questão da reparação do dano às vítimas do acidente em Mariana", apontou o ministro.
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