Para a grande maioria dos brasileiros (81%), os envolvidos nos atos golpistas do oito de janeiro de 2023 devem ser punidos. Somente 14,8% da população defende que todos os participantes se mantenham impunes. Os dados são da 160ª Pesquisa CNT de Opinião, divulgada na última terça-feira (23/1), pela Confederação Nacional do Transporte (CNT).
Segundo a pesquisa, mais da metade dos brasileiros (54,9%) defende que absolutamente todos os envolvidos nos atos, desde manifestantes a financiadores, devem receber punições, enquanto 26,1% prefere que “apenas algumas” pessoas envolvidas sejam punidas.
Para o coordenador acadêmico da Academia Brasileira de Direito Eleitoral e Político (Abradep) e doutorando em políticas públicas pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Volgane Carvalho, esse desejo de “punição” contra os manifestantes é resultado de uma soma entre o grande número de registros visuais dos atos e o fato da mídia ter apresentado extensas explicações dos motivos pelos quais os atos eram “inaceitáveis”.
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“Isso encontra uma sociedade que tem, como a sua demanda principal, a preocupação com a violência e criminalidade e, como demanda secundária ou muito próxima da principal, a preocupação com a situação econômica, com a dificuldade que o cidadão tem de conseguir manter a sua renda e sustentar a sua família. O somatório disso tudo vai fazer com que o desejo de punição dessas pessoas represente esse medo da violência, esse medo da criminalidade e, ao mesmo tempo, a revolta por conta da destruição do patrimônio público, que vai exigir um esforço das pessoas através dos seus impostos para a sua reconstrução”, argumentou.
Preocupação com a democracia
Segundo o Dr. Volgane, a preocupação com a segurança pública e com a depredação do patrimônio público são motivos historicamente mais relevantes para que tantas pessoas defendam a punição dos golpistas. Porém, ressalta que os atos acenderam, em muitas pessoas, uma preocupação antes inexistente com a saúde da democracia brasileira.
“De todos os problemas sociais que nós vivemos no país desde a promulgação da Constituição, aqueles que nos afetavam mais diretamente estavam sempre relacionados à saúde, à segurança pública e a questões financeiras. A democracia nunca foi um tema que demandou grande preocupação, porque ela não havia sofrido uma ameaça de tão grande espectro e nem havia sido questionada. Nesse momento, os atos do 8 de janeiro, parece que descortinaram uma realidade que as pessoas não estavam preparadas para ver ou preferiam não acreditar, que é o fato de que a democracia corre riscos, que existe uma outra modalidade de autoritarismo e que existem pessoas que se sentem dispostas, inclusive, a ceder parte das suas liberdades individuais para apoiar um tipo de governo ou um tipo de ideologia. Então, a gente tem um acréscimo muito importante no percentual de pessoas que passam a se preocupar com a saúde da nossa democracia”, contou.
Volgane explicou também que surgiu, a partir da realização dos atos, uma percepção pública de que esse tipo de manifestação antidemocrática pode ter resultados que atinjam diretamente à população, ameaçando a sua segurança, sua estabilidade de emprego e o próprio patrimônio público.
“Surgiu a percepção, a partir do 8 de janeiro, de que essa preocupação com a democracia não é só uma coisa abstrata que não vai influir diretamente na nossa vida, mas é algo que nos atinge diretamente. Em certo sentido é uma preocupação, também, com atos de violência que podem chegar perto da gente por manifestação política, por preferência eleitoral. É uma preocupação com o prejuízo que vai ser sofrido pelo patrimônio público e que todos nós vamos ser responsáveis pela recomposição, uma preocupação com a diminuição de direitos para as pessoas que dependem do emprego, que são trabalhadores de carteira assinada, por exemplo. É uma ameaça de diminuição da liberdade de expressão”, ressaltou.
*Estagiário sob supervisão de Pedro Grigori
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