No esforço de se apresentar como mediador em mais uma crise, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu, nesta terça-feira, no Palácio do Planalto, líderes da política alagoana em busca de um acordo de paz no estado nordestino. Com a crise deflagrada pelo afundamento do solo em cinco bairros de Maceió, em decorrência da exploração de minas de sal-gema pela Braskem, o governo petista tenta reduzir o atrito entre a prefeitura da cidade e o governo estadual, que não conseguem se entender quanto a uma solução.
O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, disse, nesta terça-feira — logo após a reunião de Lula com as lideranças alagoanas —, que o objetivo principal do encontro foi baixar a temperatura das relações políticas no estado e viabilizar um trabalho conjunto das duas esferas de gestão para resolver o problema. Mas Costa reconheceu, ironicamente, que existem conflitos políticos "geralmente suaves" no estado.
"O presidente Lula fez um apelo de que a centralidade do debate não seja na política nem um eventual acordo financeiro com o estado, ou com o município, mas que essa centralidade seja no interesse da população. E todos que estavam lá concordaram com o presidente de forma unânime", frisou o ministro.
Costa deixou claro que Lula não vai visitar o estado antes de um acordo entre os políticos locais para resolver a situação. "A reunião de hoje (terça-feira), nós fizemos para construir essa governança. Todas as medidas reparatórias correrão por conta da empresa causadora do problema. Agora, nós estabeleceremos uma governança de cunho técnico, de cunho pragmático, que tente deixar de lado as disputas políticas", garantiu.
Questionado se Lula conseguiu arrefecer a temperatura entre os alagoanos, Costa brincou: "Colocamos um gelinho lá". Mas, reservadamente, fontes que participaram da reunião dizem que o clima foi tenso, e a disputa no estado segue.
- Lira não admite "exploração política" de afundamento em Maceió
- Afundamento de mina em Maceió vira briga entre grupos políticos
- Crise em Maceió com rompimento de mina da Braskem acende alerta no Congresso
O titular da Casa Civil não apresentou nenhuma solução concreta do encontro, mesmo depois de três horas de reunião, muito mais que o previsto na agenda de Lula. O governo demonstrou que não desistiu de costurar um acordo e antecipou que o presidente deve, nos próximos dias, voltar às conversas com os políticos do estado, agora com toda a bancada de parlamentares de Alagoas.
A animosidade entre as duas esferas de governo tem como pano de fundo a disputa dos dois principais caciques do estado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), aliado do prefeito da capital, João Henrique Caldas (PL) — conhecido por JHC —, e seu principal oponente em Alagoas, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), aliado do governador Paulo Dantas (MDB).
No foco da briga está o acordo entre a prefeitura e a Braskem, pelo qual a empresa compra a área dos cinco bairros atingidos por R$ 1,7 bilhão e quita de forma "geral, integral, irrevogável e irretratável" quaisquer danos, presentes ou futuros, inclusive possíveis reparações ambientais.
Na reunião, Calheiros chamou de "criminoso" o acordo, firmado em julho deste ano, e pediu a anulação. Por sua vez, o prefeito refutou a demanda do senador na reunião com Lula.
Lira, Renan e JHC seguiram se estranhando em diversos momentos do encontro. Enquanto o prefeito defendeu o acordo, o senador elencou as falhas da proposta, que não previa, segundo o parlamentar, uma indenização justa aos moradores. Aliado de Calheiros, o governador de Alagoas, Paulo Dantas, também se opõe ao acordo.
Ante o clima quente no Planalto, com acusações de "mentiroso" entre os presentes, até Lula precisou intervir para acalmar os ânimos.
Costa descartou a participação da Petrobras no caso Braskem — mesmo a estatal tendo 47% do capital votante da companhia —, já que o comando é da Novonor, novo nome da Odebrecht, que controla 51% da empresa.
No Parlamento, o governo segue tentando dissuadir os senadores de instalar a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Braskem.
Para o Planalto, há o risco de instabilidade política, com o aliado Calheiros desgastando Lira, com quem Lula não quer criar indisposição, pois depende do presidente da Câmara para votar temas de interesse do Executivo. Mesmo assim, a CPI deve ser instalada nesta quarta-feira.
Saiba Mais
-
Política "Poderia ser pior", diz Barroso sobre desaprovação do Supremo
-
Política 8 de janeiro, crise de segurança, 'dama do tráfico': os pontos sensíveis da sabatina de Flávio Dino
-
Política Moraes classifica PEC das decisões monocráticas como "irreal"
-
Política PF cumpre 4 mandados de busca contra suspeito de invadir perfil de Janja
-
Política Ministros reassumem mandato no Senado para votar em Flávio Dino