Entidades ambientalistas classificaram como contraditória a entrada do Brasil no grupo Opep+ — que é a Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep) ampliada para a inclusão de nações na condição apenas de observadores — com o discurso levado para a Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28), em Dubai, de que pretende ser o líder mundial em energia limpa e renovável. Apesar da ironia de algumas críticas, todas elas foram enfáticas em considerar a postura brasileira como, no mínimo, dúbia.
A Climate Action Network International (CAN) zombou do Brasil ao conceder o "prêmio" Fóssil do Dia. A entidade, que reúne organizações não-governamentais, afirma que o país "parece ter confundido a produção de petróleo com a liderança climática. A corrida do Brasil ao petróleo mina os esforços dos negociadores brasileiros em Dubai que estão tentando romper velhos impasses e agir com senso de urgência". Segundo a CAN, por conta das COP do ano passado, havia grande expectativa de que o Brasil do governo Lula seria uma "lufada de ar fresco como campeão climático".
"O Brasil diz uma coisa, mas fez outra na COP28. É inaceitável que o mesmo país que diz defender a meta de limitar o aquecimento global em 1,5° agora esteja anunciando o seu alinhamento ao grupo dos maiores exportadores de petróleo do mundo", criticou Leandro Ramos, porta-voz do Greenpeace Brasil.
Ele avalia a posição brasileira como "equivocada e perigosa", que, segundo ele, dificulta a construção de pontes para a COP30 — em Belém, em 2025. "O governo brasileiro precisa se posicionar contra os combustíveis fósseis se quer assumir um papel de liderança climática mundial. Essa incoerência poderá colocar em xeque sua posição para cobrar metas mais ambiciosas dos países desenvolvidos. E custará caro à política climática brasileira", salientou Ramos.
A World Wide Fund for Nature Brasil (WWF-Brasil), considerou positiva a atuação do Brasil na defesa das florestas, dos povos indígenas e na assinatura da declaração sobre sistemas alimentares e agricultura. Porém, também condenou a aproximação com os grandes produtores de petróleo.
"É contraditório o anúncio da entrada do Brasil na Opep+. O movimento reforça o bloco de produtores de petróleo e vai na contramão da urgente e necessária transição energética que o Brasil e o mundo precisam para combater a crise climática", diz nota da instituição.
Exemplo
Para a WWF Brasil, o governo brasileiro precisa implementar "a liderança pelo exemplo" e transformar os compromissos em "ações concretas e políticas públicas", bem como ampliar "espaços de diálogo e de participação com a sociedade civil na construção da COP30".
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva justificou a adesão à Opep+ por considerar um foro adequado para tratar de novas matrizes energéticas "Vou para ouvir e dar palpite. Acho importante participar porque a gente precisa convencer os países que produzem petróleo que eles têm de se preparar para o fim dos combustíveis fósseis. Se preparar significa aproveitar o dinheiro que lucram com o petróleo e fazer investimentos para que os continentes africano e a América Latina possam produzir os combustíveis renováveis que eles precisam, sobretudo o hidrogênio verde", argumentou.
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