COP

Entre lágrimas e abraços, Marina recebe gesto de prestígio

O presidente disse não ser a pessoa certa para comentar o tema e destacou que a ministra nasceu na Região Amazônica

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quebrou o protocolo, ontem, ao passar a palavra para a ministra do Meio Ambiente e da Mudança do Clima, Marina Silva, em um evento sobre conservação das florestas, na COP28, em Dubai. Emocionado, o presidente disse não ser a pessoa certa para comentar o tema e destacou que a ministra nasceu na Região Amazônica e é a responsável pela política de preservação ambiental do governo brasileiro. Lula deveria fazer o discurso em nome do Brasil no evento.

"Eu vou pedir para quebrar o protocolo. Aqui está tudo muito arrumado. Muito burocrático", começou Lula. "Eu não poderia utilizar a palavra sobre a floresta se eu tenho, no meu governo, uma pessoa da floresta. A Marina nasceu na floresta. Se alfabetizou aos 16 anos. E eu acho que é justo que, para falar sobre a floresta, em vez de falar o presidente, que é de um estado que não é da floresta, a gente tenha que ouvir ela, que é a responsável pelo sucesso da política de preservação ambiental que nós estamos fazendo no Brasil", acrescentou. Ao passar a palavra, Lula chorou e abraçou Marina, sob aplausos dos presentes.

A ministra, por sua vez, agradeceu o gesto do presidente e destacou que cinco dos 10 decretos que Lula assinou ainda no dia de sua posse tratam da proteção do meio ambiente e dos povos originários. Apesar de Lula ter oferecido o seu discurso pronto, a ministra decidiu falar de improviso. Marina também destacou as ações da gestão atual para reduzir o desmatamento ilegal na Amazônia.

"Já conseguimos, nos 10 primeiros meses, reduzir o desmatamento, que estava numa tendência de alta assustadora. Reduzimos o desmatamento em 49,5%, evitando lançar na atmosfera 250 milhões de toneladas de CO2. Se não fossem essas medidas tomadas, teríamos um aumento do desmatamento de 54%, e não uma queda de 49% no seu governo nesses 10 meses", discursou Marina.

A ministra citou ainda a participação dos povos originários no governo como exemplo de medida para proteção da floresta. Ela destacou a criação do Ministério dos Povos Indígenas, que tem Sonia Guajajara como a primeira indígena ministra da história. Também ganhou destaque a demarcação de terras quilombolas.

"Os povos originários são responsáveis por 80% das florestas protegidas do mundo, e o povo quilombola agora também tem uma mulher negra, Anielle Franco, uma jovem que está ajudando a proteger florestas com o povo quilombola", disse Marina, citando a ministra da Igualdade Racial. A titular do Meio Ambiente também falou sobre a importância da transversalidade no cuidado ambiental, em que 23 ministérios atuam em conjunto na formulação da agenda ambiental, e 19 no combate ao desmatamento.

Ao fim de sua fala, Marina ainda enfatizou a atuação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que coordena os esforços de transição para a chamada economia verde. "A sua diretriz para proteger florestas é mais do que comando e controle. É uma diretriz de desenvolvimento sustentável", pontuou. Ela citou ainda a captação de investimentos internacionais para os fundos voltados a ações de proteção ambiental, como o Fundo Amazônia.

O painel Florestas: Protegendo a Natureza para o Clima, Vidas e Subsistência fez parte da COP28, que ocorre em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A conferência mundial sobre clima vai até 12 de dezembro. (VC)

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