Presidência

Em um Brasil dividido, Lula vai pedir por um Natal de união

No pronunciamento que fará nesta noite, em cadeia nacional, o presidente vai pedir que a harmonia das famílias não seja apenas uma frase de efeito e lembrará como a democracia prevaleceu depois dos atos golpistas do início do ano

Lula publicou, na sexta-feira (22/12), o primeiro decreto do indulto de Natal em seu terceiro mandato -  (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Lula publicou, na sexta-feira (22/12), o primeiro decreto do indulto de Natal em seu terceiro mandato - (crédito: Marcelo Camargo/Agência Brasil)
Mayara Souto e Fernanda Strickland
postado em 24/12/2023 03:55

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou a tradicional mensagem de Natal que irá ao ar nesta noite, em cadeia nacional de rádio e televisão. De acordo com fontes do Planalto, ele deve pedir às famílias que abram mão de desavenças políticas e valorizem a união, neste fim de ano. O presidente também vai fazer referência aos atos antidemocráticos de 8 de janeiro e os desafios do país para manter o equilíbrio democrático.

Lula tem compartilhado com seus aliados a preocupação com a polarização política no país e os possíveis impactos desse cenário nas eleições municipais de 2024. Em um evento do Partido dos Trabalhadores (PT), no início do mês, ele previu que, na disputa municipal, ele e o ex-presidente Jair Bolsonaro, como cabos eleitorais, continuarão catalisando o eleitorado. Nesse contexto, ressaltou a importância de que o partido e seus aliados defendam a democracia, sem medo.

Lula ainda deve fazer um balanço das ações do governo neste primeiro ano de seu terceiro mandato. Será destacado o retorno dos programas Bolsa Família; Minha Casa, Minha Vida; e, também, a aprovação da reforma tributária. Para 2024, o presidente deve adiantar algumas prioridades. A transição energética e a defesa do meio ambiente, muito discutidas na última Conferência do Clima das Nações Unidas (COP28), seguem como agendas prioritárias.

Além disso, Lula deve enfatizar que 2024 será o ano de colher os frutos das medidas adotadas neste primeiro ano de governo. Segundo um assessor do Planalto, a expectativa é que as ações implementadas neste período comecem, efetivamente, a surtir efeito a partir de janeiro.

Essa não será a primeira vez que Lula falará sobre união e democracia, em razão da polarização que atingiu seu auge na campanha eleitoral de 2022, quando derrotou o então presidente Jair Bolsonaro (PL) em uma disputa apertada, só definida no segundo turno. No fim de novembro, ele publicou no X (antigo Twitter) um pedido para que as pessoas deixassem as brigas de lado e se reconciliassem.

"Fim de ano chegando. Está na hora de deixar as diferenças políticas de lado. Dos familiares se perdoarem pelas brigas do passado e que o respeito seja a regra. Assim, construiremos dias melhores", escreveu, na ocasião.

No discurso desta noite, o presidente não vai citar nenhum ministro ou integrante do governo — nem mesmo Fernando Haddad (PT), da Fazenda, que capitaneou em nome do Planalto as negociações para a aprovação do novo Marco Fiscal e da reforma tributária.

Na última sexta-feira, nas redes sociais, Lula recorreu à metáfora de que 2023 foi dedicado a "arrumar a casa", referindo-se à remontagem da estrutura institucional do país e o restabelecimento das políticas públicas travadas pelo governo anterior. O ano que vem, segundo ele, será de mais trabalho para melhorar a vida das pessoas. "2023 foi ano de recuperar o Brasil. De arar a terra, arrumar a casa. Daqui para frente, tudo que a gente sonhar vai brotar. Em 2024, vamos trabalhar mais e ainda mais rápido pra fazer a vida das pessoas melhorar. Boa noite e um bom fim de semana", diz o texto publicado.

8 de janeiro

O discurso de Lula deve lembrar também os atos golpistas de 8 de janeiro, um dos dias mais caóticos da história de Brasília. Naquele domingo, poucos dias depois da posse do presidente, bolsonaristas radicais, golpistas e criminosos invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto, sede da Presidência da República.

O ataque aos Três Poderes e à democracia foi um ato sem precedentes no país. Os golpistas quebraram vidraças e móveis, vandalizaram obras de arte e objetos históricos, invadiram gabinetes de autoridades, rasgaram documentos e roubaram armas. O prejuízo ao patrimônio público, de todos os brasileiros, ainda não foi calculado.

O presidente Lula, que estava em São Paulo no momento dos atentados, voltou a Brasília e decretou intervenção federal na segurança pública do DF. O episódio será lembrado pela ótica da resposta que a democracia deu a esses movimentos golpistas, com a união dos presidentes dos Três Poderes em torno da defesa da institucionalidade.

O pronunciamento do presidente deve durar menos de cinco minutos e será transmitido em cadeia de rádio e TV nacional. A exibição está marcada para 20h30. O último discurso de Natal de Lula foi transmitido em 2010, com tom similar ao que deve ser dito nesta noite. À época, ele também incentivou que a população fizesse compras com responsabilidade para evitar o endividamento.

 


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