O Brasil surpreendeu em 2023. E se prepara para superar os desafios do próximo ano, particularmente na agenda econômica e no incremento da sustentabilidade ambiental. Os futuros avanços passam necessariamente por fatores como a conclusão da Reforma Tributária, o cumprimento das metas fiscais, a continuidade de políticas consideradas estratégicas pelo governo federal, a preservação da Amazônia e a aceleração da transição energética. Essas foram algumas das conclusões do CB Debate — Desafios 2024: o Brasil no rumo do crescimento sustentado, promovido pelo Correio Braziliense, com apoio da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra) e da J&F Investimentos.
Com três painéis temáticos e a participação de autoridades e especialistas de diferentes áreas, o encontro realizado na sede do Correio expôs um panorama dos eventos mais importantes ocorridos ao longo do ano e as perspectivas para 2024. Do ponto de vista econômico, formou-se um consenso de que a aprovação da Reforma Tributária e a redução da taxa de juros contribuíram para tornar o cenário mais favorável. Mas a questão fiscal é um ponto que merece atenção.
"Quase a integralidade dos agentes financeiros acham que o fator principal de preocupação na economia global é a questão fiscal", destacou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, convidado para encerrar o encontro. Ele chamou a atenção para a discrepância entre a expectativa do governo e a do mercado em relação ao problema fiscal. "Temos uma diferença grande entre a meta que o governo tem e a previsão dos mercados. Temos passado a mensagem de que o importante é perseverar. Hoje a expectativa do mercado não é de que a gente vá atingir o deficit zero, mas o importante é perseverar na luta permanente", destacou o presidente da autoridade monetária.
O ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, convidado para uma palestra magna, avaliou que os sinais são preocupantes. Apontou que o governo precisa deixar claro que o programa de desenvolvimento inclui o controle de gastos. "Estamos brincando com fogo. O governo não está seguindo a receita de Maquiavel de fazer primeiro as coisas mais difíceis. Esse é um tremendo desafio", alertou.
Despesas
Fraga mencionou a desconfiança do mercado sobre a capacidade do governo de zerar o deficit público em 2024. "Há um grande ceticismo da parte dos especialistas em relação ao governo cumprir a meta", afirmou. "Isso tem a ver com a recusa do atual governo em lidar com as questões do gasto público", completou.
Do lado do governo, o secretário-executivo do Ministério do Planejamento e Orçamento, Gustavo Guimarães, focou precisamente no esforço em conter os gastos. "Pelo lado das despesas, há uma discussão grande de que o governo não está atacando as despesas, mas o governo está fazendo sim um trabalho nessa linha", disse.
O secretário mencionou a intenção de cortar despesas atuando diretamente nos desvios e fraudes. "Temos uma agenda de revisão no lado dos gastos para aprimorar o gasto público. Um grupo de trabalho conjunto entre o Ministério do Planejamento e o Ministério da Fazenda deve apresentar um relatório para a Junta de Execução Orçamentária, com uma análise ampla das políticas públicas com maior impacto", disse o secretário. Ele ponderou, no entanto, que as despesas primárias seguem dentro da média dos últimos anos, pouco mais de 19% do PIB, e devem fechar 2023 em 19,17% do PIB.
O economista antecipou a necessidade de uma revisão criteriosa em diversos ministérios. Citou como exemplo a Previdência, onde R$ 100 bilhões por ano podem estar sendo desperdiçados em fraudes e benefícios irregulares. O valor representa metade do valor de todo o deficit primário previsto para o ano de 2023.
O presidente do Correio, Guilherme Machado, também ressaltou a importância do debate realizado pelo jornal. "Esse foi o nosso grande projeto deste ano. Fizemos mais de 20 eventos e fechamos com chave de ouro com este, falando sobre os desafios do ano que vem. Vamos torcer para que o Brasil continue crescendo", concluiu. O CB Debate foi mediado pelos jornalistas Vicente Nunes e Denise Rothenburg. (Colaborou Raphael Pati, estagiário sob a supervisão de Carlos Alexandre de Souza)Saiba Mais
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