A diversidade característica do Partido dos Trabalhadores (PT) marcou os debates, ontem, no último dia da Conferência Eleitoral Marco Aurélio Garcia, que traçou estratégia para as eleições municipais do próximo ano. No painel "A política econômica do governo Lula: feitos e perspectivas para o próximo período", os petistas Fernando Haddad, ministro da Fazenda do governo, e Gleisi Hoffmann, presidente do partido, expuseram as suas divergências em relação à condução da política econômica do país.
Gleisi defendeu que o crescimento econômico seja "a principal meta" do governo Lula, ainda que isso deixe o saldo nas contas do governo negativo. Haddad, por sua vez, pediu cautela e disse que nem sempre o rombo fiscal impulsiona a economia. "Não é verdade que déficit faz crescer. De dez anos para cá, a gente fez R$ 1,7 trilhão de déficit e a economia não cresceu", apontou o ministro. Nos governos passados do presidente Lula, ressaltou o ministro, o país observou crescimento econômico médio de 4%, com cumprimento da meta de superávit primário 2%.
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"Vamos sair de um deficit de quase 2% para um deficit zero, temos de colocar isso", insistiu Haddad. O ministro defendeu que, ao invés de permitir ampliar o deficit, o governo deve trabalhar para forçar a queda da taxa de juros e melhorar o perfil da arrecadação, "fazendo quem não paga imposto, pagar", com projetos como a taxação das grandes fortunas e a medida provisória das subvenções com ICMS.
"Nós temos uma gordura na política monetária muito maior do que a gordura na política fiscal. O Banco Central não é nosso, mas graças à nossa política ele foi constrangido a baixar a taxa de juros. Ele não fez isso por vontade, fez isso pelas circunstâncias", comentou o ministro, que citou vários momentos dos governos anteriores do PT em que houve crescimento, com responsabilidade fiscal.
"A gente consegue cortar os parafusos de um jeito em que o juro caia. (A gente) resolve alguns gastos tributários, faz a reforma tributária. Não tem bala de prata: 'Faz o deficit e resolve tudo'. Não existe isso. É um conjunto de medidas para fazer a economia crescer", apontou.
Gleisi lembrou que em nenhum momento da campanha eleitoral Lula defendeu a austeridade fiscal. Ao contrário, segundo a presidente do PT, o discurso foi "expansionista", portanto, "o mercado já sabia disso".
Popularidade do governo
"Nossa meta deveria ser de crescimento econômico", rebateu Gleisi, insistindo que o governo não define a política monetária e que o atual presidente do BC, Roberto Campos Neto é "bolsonarista" e "neoliberal". "Nós só temos uma política, que é a fiscal", disse Gleisi. "Sei do esforço que o Haddad está fazendo para aumentar a receita. Mas a gente não tem governabilidade sobre isso", destacou, ao acrescentar que além das dificuldades já existentes para atingir a meta fiscal, o relator da Lei de Diretrizes Orçamentárias, Danilo Forte (União-CE), ampliou o poder do parlamento sobre o orçamento. "Estão colocando emenda impositiva de R$ 11 bilhões nas comissões, com prazo para pagar essas emendas", apontou.
Ela defendeu a ampliação de gastos e a criação de uma meta de crescimento como forma de garantir a popularidade do presidente Lula, inclusive para manter a sobrevivência da democracia. "Se cair só um pouquinho a popularidade de Lula, não tenham dúvida do que o Congresso vai fazer. Foi o que aconteceu com a Dilma", recordou Gleisi, citando que, o processo de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff começou com o enfraquecimento da economia. Se isso ocorrer, alertou a deputada, quem vai assumir não é o centro nem a direita. "É a extrema direita."
Ela pontuou que a economia tem dado sinais de desaquecimento, o que pode colocar em risco a popularidade do presidente Lula. "Se a gente baixar a popularidade do presidente Lula, esse Congresso engole a gente. Com tudo isso que nós fizemos, a única coisa que a gente não pode deixar cair, é a economia", disse ela. "Não acredito que um deficit a mais no ano que vem, vá fazer a diferença".
Na convenção, os petistas aprovaram uma resolução condenando o "austericídio fiscal", e afirmando que o país precisa se libertar do "urgentemente da ditadura do Banco Central independente". Após o debate com Haddad, em entrevista coletiva, a presidente do PT esclareceu que o austericídio citado no documento não é uma crítica do partido ao governo. "Estamos dizendo que não podemos nos guiar por uma política de austericídio fiscal que venha contra a gente. Nós queremos que os investimentos aconteçam, que os programas sociais saiam. foi isso que discutimos durante a campanha eleitoral", justificou.
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