A proteção da democracia nos países da América Latina, em especial, nos que compõem o bloco — Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai — foi o debate central na abertura da Cúpula Social do Mercosul, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro. A reunião promove a participação da sociedade civil nas decisões do grupo e está sendo reeditada presencialmente após sete anos de interrupção.
"Essa retomada precisa ser para avançar. Precisamos avançar e institucionalizar os processos de participação na agenda da política externa do nosso país e na do Mercosul. Para que, quando vierem os tempos difíceis, não tenhamos perdas tão significativas, como tivemos nos últimos anos", afirmou a representante da sociedade civil, Verônica Ferreira, do comitê organizador da Articulação Feminista Marcosur. "Estamos colocando a necessidade de construir uma agenda democrática porque a democracia está em risco na nossa região", acrescentou.
Na mesma linha, a embaixadora Gisela Padovan, do Ministério das Relações Exteriores, destacou que o Mercosul é um acordo econômico extremamente rentável — segundo ela, em 1991, o comércio entre os membros do bloco era de US$ 4 bilhões por ano, e, 32 anos depois, são US$ 46 bilhões. "Porém, o Mercosul tem a parte política também. Queremos receber os insumos da sociedade e seguir na direção que vocês vão nos indicar. O engajamento da sociedade civil em movimentos sociais é essencial para alicerçar as bases de uma política democrática, que é o que queremos", comentou.
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A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, reiterou que os movimentos sociais estão "sempre 50 anos à frente do Estado" e que, por isso, essa articulação entre membros do bloco e os movimentos sociais é tão importante. "Precisamos pensar uma nova estratégia para que os movimentos sociais possam participar, debater e ajudar nas resoluções, que não são fáceis. Temos grandes desafios no Mercosul", frisou. "No campo das mulheres, temos de discutir a misoginia, o ódio contra as mulheres, que tem fortalecido cada vez mais o feminicídio e a violência sexual em toda a região."
Anielle Franco, ministra de Igualdade Racial, corroborou a fala da colega de ministério. "Queremos demandar que a participação social seja mais intensa nas reuniões dos blocos. O desenvolvimento e a cidadania precisam caminhar juntos para pensar em um futuro mais inclusivo, justo e democrático para todas as pessoas. Se com racismo não há democracia, com racismo, xenofobia e desigualdade também não existe desenvolvimento econômico", enfatizou.
A ministra substituta do Desenvolvimento Agrário, Fernanda Machiavelli, ressaltou que, hoje, em todo o bloco, há "desafios da insegurança alimentar e das mudanças climáticas, e a questão das desigualdades de gênero, de raça, de oportunidades e econômicas, que também se manifestam na dificuldade de acesso à terra".
Até janeiro, o Brasil está na presidência "pro tempore" do grupo. Além da Cúpula Social, a Cúpula do Mercosul é dividida em mais dois momentos: a Reunião do Conselho do Mercado Comum, quarta-feira, e a Cúpula de Líderes, na quinta-feira.
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