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Castro acena ao bolsonarismo; governo vê jogada eleitoral

Governador do Rio de Janeiro recria a Secretaria de Segurança e a entrega a delegado ligado a Alexandre Ramagem e a Flávio Bolsonaro. Justiça e Planalto veem manobra com vistas à disputa pela prefeitura da capital fluminense

Apesar de ter afirmado algumas vezes que não recriaria a Secretaria de Segurança Pública do Rio de Janeiro — extinta em 2019 por decisão do então governador Wilson Witzel —, o governador Cláudio Castro não somente remontou o órgão que controlará as ações das polícias Civil e Militar, como colocou à frente dele um delegado federal que tem conexões com figuras de proa do bolsonarismo. Victor César Carvalho dos Santos, ex-superintendente da Polícia Federal no Distrito Federal, tem estreitas ligações com o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) — ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Bolsonaro —, e com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A escolha do governador foi recebida com desconfiança pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública e pelo Palácio do Planalto.

A suspeita de setores do governo federal é que a colocação de Victor dos Santos na secretaria seja um cálculo político do governador fluminense, com vistas à eleição da Prefeitura do Rio de Janeiro, no próximo ano. Em função da inelegibilidade do general da reserva Walter Braga Netto, por oito anos, decretada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em outubro, Ramagem ganhou força para ser o candidato do PL na disputa pelo Palácio da Cidade. A escolha de Victor dos Santos seria, na visão de setores do governo Lula, a reabertura, pelo governador fluminense, das pontes com o bolsonarismo — que ficaram abaladas com o pedido de Castro de decretação da GLO (Garantia da Lei e da Ordem) restrita, nos portos e aeroportos fluminenses, e a aproximação com o ministro Flávio Dino.

Victor dos Santos foi indicado para a Superintendência da PF no DF pelo senador Flávio Bolsonaro. Ficou no posto de outubro de 2021 até fevereiro. Além disso, ele teria sugerido ao então interventor na segurança do Distrito Federal, Ricardo Cappelli — hoje secretário-executivo do Ministério da Justiça —, que os presos na tentativa de golpe de 8 de janeiro ficassem em prisão domiciliar. A proposta não foi aceita.

Além do cálculo eleitoral, da parte do governo federal há, também, a preocupação de que um nome ligado ao bolsonarismo possa causar algum ruído dentro da coordenação da GLO em curso no Rio. Por parte das forças federais, isso levará a um modo de atuação semelhante ao de São Paulo, cuja Secretaria de Segurança está sob o comando do feroz antipetista Guilherme Derrite — as ações são coordenadas sob intenso cuidado para não desbordar na direção de um confronto entre o governador Tarcísio de Freitas e o governo federal.

Naturalidade

Por ora, a ordem é tratar com naturalidade a recriação da secretaria fluminense e a colocação de Victor dos Santos para dirigi-la. Ontem, no Rio de Janeiro — onde esteve para participar de uma reunião de monitoramento da GLO e de um evento na Fundação Getulio Vargas (FGV) sobre segurança portuária —, Ricardo Cappelli disse ver com bons olhos a recriação da pasta.

"Nossa relação institucional com o governo do Rio é boa, respeitosa. A gente vê com bons olhos a recriação da secretaria. Volto a dizer: a chave da segurança pública é a integração. É a Polícia Militar, é a Polícia Civil, é a investigação com as forças ostensivas. É a gente ter mais integração. E a recriação da secretaria vai nesse sentido. Me parece uma medida acertada do governador", frisou. Castro também montou uma corregedoria unificada, para julgar policiais civis e militares investigados por irregularidades administrativas.

O secretário-executivo do Ministério da Justiça reconheceu que a GLO não é a medida ideal para o combate ao crime organizado. Para ele, o melhor seria triplicar o efetivo da PF ou "multiplicar por 10, 20" os quadros da Receita Federal.

 

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