Guerra

Comitiva ucraniana busca parcerias e reconstrução no Brasil

Representantes da sociedade civil ucraniana estiveram no Brasil na semana passada buscando acordos em sustentabilidade e cultura; apoio mira na reconstrução pós-guerra

Uma comitiva da sociedade civil ucraniana esteve no Brasil na semana passada para fechar parcerias nas áreas de cultura e sustentabilidade, incentivando a aproximação entre os dois países. A visita ocorre em meio a um desvio de foco no cenário mundial, após a eclosão da guerra entre Israel e o grupo Hamas, na Faixa de Gaza. Os ucranianos tiveram uma série de reuniões com parlamentares e integrantes do governo brasileiro, e buscaram também cooperação com outras entidades. A expectativa é que o Brasil possa ajudar nos esforços para reconstrução da Ucrânia no pós-guerra, especialmente com sua expertise em restauração ambiental e energia limpa.

O grupo, que esteve em São Paulo e em Brasília, era composto pela gestora de defesa do Acordo Verde e consultora do chefe da Agência Estatal para Eficiência Energética e Poupança de Energia da Ucrânia, Olha Yevstihnieieva, o diretor-geral adjunto do Instituto Ucraniano, Alim Aliev, e o diretor executivo do think tank Fundação de Iniciativas Democráticas Ilko Kucheriv, Petro Burkovsky. A comitiva representa a sociedade civil, mas tem interesses alinhados com o governo ucraniano.

Ao Correio, Yevstihnieieva e Aliev apontaram que a Ucrânia espera um duro inverno neste fim de ano, já que a Rússia atacou o sistema de produção e a distribuição de energia do país. Também não há expectativa para o fim do conflito. Apesar da situação dramática, eles insistem que não há outra opção além de lutar, e que a Ucrânia, mesmo sob cerco, quer elevar sua participação no cenário global.

Carlos Vieira/CB/D.A.Press -
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“Nós não queremos ser postos na mesa de negociação. Nós queremos estar sentados à mesa, com os outros países. A Rússia quer nos desgastar, cansar a nossa população”, explicou Aliev. “Para nós, é uma guerra pela sobrevivência. Pela nossa existência. Não é sobre território, é sobre nossa cultura, nossa identidade, sobre nossa visão de futuro”, acrescentou. De acordo com o delegado ucraniano, os ataques russos já danificaram mais de 800 objetos de importância cultural, como templos e teatros.

Aliev ressaltou que Brasil e Ucrânia possuem grandes semelhanças culturais, como o gosto por esporte, música e literatura, e que divulgar a cultura ucraniana pelo mundo é uma forma de preservar o trabalho de seus artistas da guerra. Um dos acordos de cooperação fechados por ele em sua visita ao Brasil foi com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, que tocará, em suas apresentações, obras de compositores ucranianos.

Brasil é referência em energia limpa

Já Yevstihnieieva destacou que o Brasil é referência mundial em energia limpa e conservação ambiental, conhecimentos que podem ajudar na recuperação pós-guerra. “Cerca de 30% da nossa terra foi contaminada com explosivos, e precisamos recuperar isso. Não podemos esperar para agir e adequar a nossa matriz energética no pós-guerra, até porque ninguém sabe quando ela vai acabar. Dificilmente será ainda neste ano, e talvez nem no ano que vem”, disse a consultora. Para ela, a guerra escancarou que a dependência de combustíveis fósseis é perigosa para a autonomia dos países, especialmente porque a Rússia domina uma porção considerável do mercado de gás e petróleo.

Yevstihnieieva esteve no Ministério da Fazenda para discutir, de forma ainda preliminar, a possibilidade de acordo com os títulos verdes, emitidos pelo governo brasileiro. Outros pontos de interesse são o mercado de carbono e a estratégia de transição para uma economia verde capitaneada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. A delegada também esteve no Ministério do Desenvolvimento Agrário, e se disse surpresa com o nível de tecnologia dos agricultores familiares brasileiros, algo que pode ser aproveitado na Ucrânia. O Brasil também pode ajudar, segundo ela, na recuperação das matas e florestas destruídas pelos bombardeios.

A visita da comitiva deu continuidade ao trabalho de outra delegação enviada ao Brasil em março, que se encontrou com políticos como o líder do governo no senado, Jaques Wagner (PT-BA); o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (sem partido-AP); e o senador Renan Calheiros (MDB-AL). Em fevereiro do ano que vem, uma comitiva de políticos brasileiros deve visitar a Ucrânia.

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