A chegada em segurança do grupo de 32 brasileiros repatriados da Faixa de Gaza fez com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevasse o tom das críticas aos ataques de Israel contra a população civil no enclave palestino.
Nas declarações mais duras até agora, Lula equiparou os bombardeios israelenses a atos terroristas quando os alvos são "crianças e mulheres inocentes". Ele reafirmou que o ataque do Hamas a vilas israelenses, em 7 de outubro, foi ação terrorista.
Nas suas redes sociais, nesta terça-feira, o presidente postou que não considera correta "a resposta de Israel ao ataque terrorista do Hamas". "O ataque a crianças e mulheres inocentes se assemelha ao terrorismo. Se eu sei que está cheio de criança em um lugar, pode ter um monstro lá dentro, não se pode matar as crianças para matar o monstro", escreveu.
No Itamaraty, as declarações de Lula já eram esperadas. O tom mais severo contra Israel só não havia sido adotado antes pelo Palácio do Planalto porque as negociações diplomáticas para retirar os brasileiros de Gaza pela fronteira com o Egito "foram muito delicadas" e envolveram quatro países, segundo relatou ao Correio uma fonte que participou diretamente dessas conversas.
As embaixadas do Brasil em Israel, no Egito, na Cisjordânia e no Catar trabalharam ininterruptamente para conseguir a aprovação da lista de repatriados e as autorizações necessárias para atravessar a fronteira egípcia em Rafah.
Desde que Israel iniciou a retaliação aos ataques do Hamas, isolando e bombardeando o enclave palestino, os brasileiros precisaram esperar 36 dias para cruzar a fronteira, no sul de Gaza. Ao longo desse tempo, viveram momentos de terror, com as bombas lançadas sobre Gaza, e sofreram privações com a falta de água, energia elétrica e até comida.
Lula, segundo esse diplomata, sempre externou suas posições críticas à ação militar israelense, mas tinha a compreensão de que qualquer ruído poderia pôr em risco a operação de repatriação. Nesta terça-feira, no programa Conversa com o presidente, poucas horas depois de recepcionar os repatriados na Base Aérea de Brasília, o petista voltou a equiparar a violência israelense ao terrorismo, defendeu a solução de dois Estados e disse perceber que o objetivo da ação militar é "ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos de lá".
"É por isso que eu disse ontem (na noite de segunda-feira, quando os repatriados chegaram a Brasília) que a atitude de Israel com relação às crianças e às mulheres é uma atitude igual ao terrorismo. Não tem como dizer outra coisa", declarou.
O Correio apurou que, no Planalto, havia um movimento de auxiliares políticos para não criminalizar o Hamas, que governava a Faixa de Gaza e comandou a invasão armada a vilas em Israel, quando 1,2 mil israelenses foram mortos e pouco mais de 200, capturados como reféns.
O presidente, porém, foi a primeira autoridade brasileira a dizer que o ataque foi um ato de terrorismo do Hamas e que o grupo não podia ser confundido com a população palestina que sobrevive em Gaza.
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Novas listas
Nesta terça-feira, em Brasília, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, iniciou as tratativas para elaboração de novas listas de interessados em deixar não só a Faixa de Gaza como a Cisjordânia e o Líbano, caso o conflito com os palestinos avance sobre outras fronteiras.
O Itamaraty espera definir com as chancelarias de Israel e do Egito critérios objetivos para inclusão de nomes nas listas de repatriação.
No primeiro resgate, o critério foi receber, além dos brasileiros naturais, parentes em primeiro grau, como pais e irmãos, e tutores legais de menores. Mas a ordem entre os diplomatas é não especular sobre números e datas.
"A gente vai tentar fazer todo o esforço que estiver ao alcance da diplomacia brasileira para tentar trazer todos os brasileiros que lá estão e que queiram vir para o Brasil. Inclusive, alguns companheiros que tinham parentes não brasileiros, eu pedi para trazer, e a gente trataria de legalizar as pessoas aqui no Brasil", destacou o presidente. "Não vamos deixar nenhum brasileiro ficar lá por falta de cuidado do governo."
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