"Estou me sentindo segura." Esse é o relato de Shahed Al-Banna, 18 anos, brasileira resgatada da Faixa de Gaza. Em entrevista ao Correio, ela contou sobre o primeiro dia no Brasil. "Não consegui dormir, porque estava preocupada com o resto da minha família, não estava conseguindo contato com eles, mas o primeiro dia foi muito bem. Estou calma, estou me sentindo segura, feliz com o pessoal daqui", afirmou.
Questionada sobre a expectativa de uma nova vida no país, Shahed relatou que a prioridade é ajudar no resgate de outros brasileiros e do restante da família. Também pretende ingressar na faculdade. "Tudo o que eu estou pensando agora é como eu posso ajudar para retirar o resto dos brasileiros e da minha família que estão presos na Faixa de Gaza. Quero também continuar estudando."
De valor sentimental, a jovem trouxe uma kufiya palestina. Explicou que o lenço significa "tudo o que a gente passa na Palestina". "Tem um sinal vermelho, que é o nosso sangue, e os traços branco e preto que representam a prisão que a gente está na Faixa de Gaza e a esperança", contou.
Shahed também mandou um recado para brasileiros com famílias na região do conflito, que aguardam a repatriação. "Tenham fé no governo brasileiro, porque eles conseguem fazer tudo, e espero que eles conseguirão também retirá-los da Faixa de Gaza e trazê-los para cá."
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Ela se disse satisfeita com o cardápio servido na Base Aérea em Brasília. "Eu estava com muita saudade de arroz e feijão, você não tem noção", confidenciou. A jovem morava em São Paulo, mas precisou ir para a Faixa de Gaza porque a mãe estava com câncer e queria se despedir da família. Ela morou na região por um ano e meio, perdeu familiares e amigos na guerra e teve a casa destruída pelos bombardeios.
O primeiro dia dos repatriados brasileiros da Faixa de Gaza no Brasil foi de acolhimento. O grupo de 32 pessoas chegou, na noite de segunda-feira, à Base Aérea de Brasília e recebeu uma série de atendimentos, após mais de um mês sob o jugo da guerra.
O diretor de Atenção Hospitalar Domiciliar e de Urgência do Ministério da Saúde, Nilton Pereira Júnior, afirmou que os repatriados tiveram o cartão de vacinação atualizado e receberam apoio psicológico. Segundo ele, no geral, eles apresentam sintomas como cefaleia, dores no corpo, ansiedade, tristeza e insônia, sinais esperados em relação à tragédia vivida.
"Todos que estão apresentando sinais psicossociais, como é esperado pela situação de extremo estresse que passaram, foram avaliados por quatro psicólogos", ressaltou. Segundo ele, "não houve necessidade de internação, mas de acompanhamento a médio e longo prazos".
Som dos aviões
Nilton Júnior disse, também, que as crianças se mostraram incomodadas com os sons de aeronaves no local. "Todo avião que passa perto gera estresse nas crianças. Por isso, estamos fazendo trabalho de ludoterapia. Algumas não dormiram e ficaram brincando. Estão no misto de euforia e alívio e, ao mesmo tempo, de preocupação, estresse, ansiedade com perdas e com afastamento de alguns dos seus familiares." O incômodo pode ocorrer devido à correlação entre os sons de avião e os bombardeios aéreos.
Segundo o diretor, as crianças se recusaram a beber água, pois tomavam água suja no período em que estavam privados de recursos, e passam por uma reeducação. Sete delas, enviadas ao hospital por diagnóstico inicial de abatimento e palidez, tiveram alta, e o quadro de desnutrição ou desidratação inicial foi descartado.
O grupo também foi atendido na confecção de documentos, como CPF, além de RG e reemissão de certidões de nascimento. De acordo com o Ministério da Justiça, nenhum dos estrangeiros pediu refúgio até o momento. Hoje, às 10h, 26 repatriados seguirão para São Paulo, em um voo da Força Aérea Brasileira (FAB), com destino a Guarulhos. Na cidade, 14 serão encaminhados a um abrigo.
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