Argentina

Eleição na Argentina: Lula faz campanha velada contra Milei

Sem citar nome do ultradireitista, presidente pede que argentinos escolham, domingo, um novo chefe de governo e de Estado que "goste de democracia". E que não pense em enfraquecer o Mercosul

Ao comentar o segundo turno das eleições presidenciais na Argentina, marcado para domingo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que é "muito importante" que o chefe do Poder Executivo eleito no país vizinho "goste de democracia". Apesar de não explicitar apoio a qualquer dos candidatos, o recado foi na direção do representante da extrema-direita, Javier Milei, que tem defendido o rompimento das relações comerciais entre os dois países.

"O Brasil precisa da Argentina e a Argentina precisa do Brasil. Dos empregos que o Brasil gera na Argentina e dos empregos que a Argentina gera no Brasil, do fluxo comercial entre os dois países e de quanto nós podemos crescer juntos", frisou, no programa semanal Conversa com o Presidente.

Segundo Lula, "para isso é preciso ter um presidente que goste de democracia, que respeite as instituições, que goste do Mercosul, que goste da América do Sul e que pense na criação de um bloco importante".

Na campanha eleitoral, Milei disse que não fará acordos com governos "comunistas" — referindo-se à China e ao Brasil, principais parceiros comerciais da Argentina. Ele já se referiu a Lula como um "comunista raivoso" e "socialista com vocação totalitária". Afirmou também que caso seja eleito, fará com que o país siga "seu próprio caminho" e abandonará o Mercosul.

Lula enfatizou que a relação entre os dois países é profunda e está muito acima de governos e ideologias. "Quando ganhei, em 2002, a Argentina foi o primeiro país que visitei antes de tomar posse. Em 2023 também. A Argentina é muito importante para o Brasil. Tenho boa relação com muitos ex-presidentes argentinos. E peço para que os argentinos se lembrem que precisamos de um presidente que valorize as relações entre nossos países", cobrou.

Para o presidente, a proximidade entre os países-membros do bloco sul-americano é fundamental para o fechamento de futuros acordos — sobretudo com a União Europeia, que se arrasta há décadas. "Se a gente briga, a gente não vai a lugar nenhum. Só queria pedir ao povo argentino para que, na hora de votar, pense na Argentina. É soberano o voto de vocês, mas pense um pouco no tipo de América do Sul que querem, no tipo de Mercosul que querem. Juntos seremos fortes", exortou.

Debate

A relação com o Brasil ocupou um bom espaço no último debate entre os dois candidatos à Presidência argentina. O governista e atual ministro da Economia, Sergio Massa, opositor de Milei, alertou que "criar problemas com Brasil e China vai terminar com menos empregos" e que "política exterior não pode ser regida por caprichos". A mesma preocupação foi demonstrada pelo ministro da Fazenda brasileiro, Fernando Haddad, diante de uma possível ruptura com o parceiro comercial.

No primeiro turno, Massa saiu na frente, com 36,68% dos votos válidos, e Milei ficou com 29,98%. De acordo com as pesquisas, a votação de domingo será acirrada. Pela sondagem Atlas Intel, Milei tem 52,1% das intenções de voto e Massa, 47,9%. Jà pelo levantamento da Celag, Massa teria 50,8% e Milei, 49,2%.

 

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